Entre os séculos XIV e XV ocorreu o
Renascimento Cultural e, com isso, uma grande crise no sistema medieval. A
população, que antes sentia-se protegida por um modelo geocêntrico, no qual
colocava o homem e a Terra na centralidade de um universo finito caia em terra
com o surgimento do heliocentrismo de Nicolau Copérnico e, com isso, toda uma
visão de mundo, levando a uma grande crise existencial. A existência já não
mais era explicada e justificada pelos modelos existentes. Aquilo que era tido
como verdade tornou-se duvidoso.
Com isso, teve início duas correntes
filosóficas, o Empirismo e o Racionalismo, as quais buscavam, por meios
diferentes, um conhecimento verdadeiro; um conhecimento sólido, uma vez que as
estruturas existentes já não eram suficientemente sólidas para sustentar a
vida. Dois expoentes dessas escolas, Francis Bacon e René Descartes,
respectivamente, reconheceram essa ruptura e buscaram métodos para tal
resposta. Dessa mesma forma, Sonia Hoffman, cientista do filme “Ponto de
Mutação” percebe que o sistema atualmente vigente, e oriundo do pensamento de
Bacon, já não era sustentável para o mantimento do planeta
A celebre frase de Francis Bacon
“Conhecimento é poder” foi muito relevante no decorrer dos séculos, mudando a
visão de ciência existente além de sustentar o ideário da Revolução Industrial.
Segundo a visão boconiana, cabe ao homem, por meio da razão, submeter a
natureza ao seu poder, levando a humanidade ao progresso. Todavia, essa visão
não lavava em consideração as limitações do ecossistema. Justamente esse
aspecto da natureza é colocado em discussão pela cientista, que enxerga a
destruição causada por um sistema capitalista, arrogante e egoísta.
Todavia, essa visão não se afasta muito da
realidade atual. Recentemente, em diversas partes do mundo observou-se o
desmatamento de grandes florestas equatoriais, vazamentos de petróleos; uma
abrupta crise ambiental de modo geral e âmbito global. Pode-se perceber, então,
a forte permanência do ideário beconiano e da primeira fase da Revolução
Industrial, mesmo após três séculos.
Desse modo, mesmo com uma forte revolução dos
meios tecnológicos e científicos, há o mantimento dessa visão degradante de
produção por meio do qual o mundo capitalista se desenvolveu e, mesmo havendo,
nas últimas décadas, conferências a fim de solucionar e mitigar os malefícios ambientais,
por meio de políticas, as quais algumas mostraram certo resultado, não é o suficiente.
Isso, por sua vez leva o questionamento: as políticas adotadas por diversos
países não demonstraram grande efeito pois são insuficientes ou a forma com que
o modo de produção capitalista ainda se desenvolve de maneira insustentável?
A resposta, na realidade, é a união de ambas
as possibilidades. Da mesma forma que as políticas objetivadas não sejam
suficientes para mitigar os danos causados por séculos de destruição ambiental
na velocidade necessária devido à crítica situação na qual o ecossistema se
encontra, os paradigmas pelos quais o mundo se desenvolve e produz já não condizem
com a situação global.
Mesmo com uma produção maior que qualquer
outra antes já vista, com equivalente geração de lixo, é notável que o acesso a
tais produtos está no controle de um seleto grupo privilegiado, sobretudo
pertencentes a países desenvolvidos e, quando presente em países pobres, a
desigualdade é ainda mais gritante. Dessa maneira, enquanto uns consomem
exponencialmente mais do que necessitam, outros vivem em condição de
indignidade e desnutrição.
Portanto, tal qual defendido pela cientista do
filme, para que haja a sustentação do mundo como o conhecemos, é necessário que
haja uma mudança de referenciais; uma mudança da visão de mundo. Entretanto,
isso deve ocorrer de modo unificado, em todas as camadas sociais e produtivas,
isto é, caso ocorram de modo fragmentado, não haveria nenhuma mudança
significativa, pois, o mundo e a vida social e econômica se sustentam e devem
estar em consonância para que funcionem da maneira que deve, uma vez que “nenhum
santo sustenta-se só”.
Vítor Salvador Garcia Lopes - 1º Ano Diurno
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