Uma pandemia de mentiras
Os Sofistas, na Grécia Antiga, atrelaram a verdade ao poder de convencimento baseado na retórica, algo condicionado pela circunstância que nega seu valor absoluto. A relatividade pregada pelos sofistas, muitas vezes atrelada aos interesses políticos daquele período histórico, ainda mostra-se presente em nossa contemporaneidade sendo capaz de gerar inúmeras chagas e feridas sociais, além de distorções no entendimento público sobre determinado assunto.
Desta forma, narrativas que abdicam do uso da razão ao se escorar em relativismos ideológicos permeiam o inconsciente da população e atingem uma massa de pessoas que negam conquistas obtidas pela ciência moderna. Um exemplo prático destas conquistas são as vacinas e seu rápido desenvolvimento atual, graças aos avanços concebidos por décadas de estudos, pesquisas e dedicação, obtido do conhecimento científico por meio do uso da razão que nos fizeram superar doenças como Pólio, Hepatite A, Tétano e Tuberculose.
Porém, o avanço da pandemia da Covid no Brasil e a dificuldade da população em aderir à vacina ou politizando sobre o tema, mostra-nos como tais discursos "Neo-sofistas" estão sendo difundidos e sustentados por retóricas simplistas que apelam para um senso comum, prejudicando anos e anos de avanço da ciência. Tal prática é observada facilmente em setores da sociedade brasileira, que além de prejudicar o combate da doença com discursos que a negam, acabam criando novos dogmas para assuntos supostamente já superados com o uso da razão, do conhecimento humano.
René Descartes, no século XVII, ganhou a alcunha de pai fundador da filosofia moderna por atribuir ao pensamento científico um método, através de uma dúvida metódica fundamental para todo o avanço científico posterior. Desta maneira, a humanidade abandonou a passividade diante das diversas doenças que assolaram nossa sociedade por séculos ao confrontá-las com uma nova forma de combate, algo conquistado somente com estudo, desenvolvimento, pesquisa e método.
Todavia, a tecnologia desenvolvida através da vacina é desconhecida pela maior parte da população, algo que vem facilitando a manipulação de dados ou de fatos, gerando medo e receio por algo que deveria ser encarado como uma conquista.
Uma metáfora do filme "O Ponto de Mutação" sobre como a Maré alta apaga nossas pegadas na areia, constata muito bem a efemeridade do mundo em relação ao que foi conquistado graças ao conhecimento científico, uma vez que serve de parâmetro para nós entendermos que todo avanço não é permanente, é algo que sempre estará sob as intempéries da natureza.
Nossa tendência é desacreditar de uma possível mudança real, uma mudança verdadeira, mas não basta a ciência prover os avanços necessários para propiciar o desenvolvimento humano, a sociedade deve acompanhar e participar racionalmente, ou seja, ser ativo nessa mudança. Caso contrário, estaremos sempre propensos a conviver com os relativistas da verdade, os negacionistas do avanço e bem estar humano.
Claudio Marinheiro - Turma XXXVIII (Noturno)
Nenhum comentário:
Postar um comentário