“Penso, logo existo”. A célebre frase do filósofo francês René Descartes sintetiza o que passaria a caracterizar a essência do pensamento científico moderno: a valorização da racionalidade humana. Ambientada na transição da Idade Média para a Idade Moderna, essa nova corrente filosófica supera as crenças e superstições que contaminavam a produção de conhecimento durante o período medieval e passa a fundamentar seu pensamento sob a ótica do antropocentrismo, questionando não mais o que é a verdade, mas sim como é possível atingi-la, utilizando o racionalismo e o empirismo como as duas principais bases epistemológicas de orientação para o desenvolvimento de um método científico.
Nesse
contexto, o filósofo racionalista René Descartes desempenha um papel
fundamental na consolidação do pensamento científico moderno. Em sua obra “O
Discurso do Método”, ele discute de que maneira a razão humana deve buscar o
conhecimento sólido e a verdade irrefutável, adotando uma postura cética de
crítica diante do dogmatismo da opinião. Desse modo, Descartes pontua a
necessidade de tudo duvidar, colocando em questão, inclusive, a sua própria
existência, pois, segundo ele, nossas crenças, nosso senso comum e,
principalmente, nossos sentidos são capazes de nos enganar e tomar conta do
nosso intelecto.
Além
disso, é importante destacar o filósofo inglês Francis Bacon, outro importante
propagador da ciência moderna e do empirismo como produção de conhecimento. Em
sua teoria, Bacon propôs a existência dos ídolos, falsas noções e hábitos mentais
presentes no intelecto dos homens - responsáveis por prejudicar o avanço da ciência
e da racionalidade - daí a urgência de ultrapassar os erros e regular a mente
humana através de um método indutivo baseado na observação precisa e minuciosa
dos fenômenos da natureza, a experiência. Nesse sentido, infere-se que, apesar
de representarem teorias com embasamentos distintos – racionalismo e empirismo
-, os dois pensadores concordam no que diz respeito ao propósito da ciência
moderna: a transformação da vida dos homens e a dominação da natureza.
À
luz dessa ideia, a filosofia moderna traz consigo o conceito de que a ciência
deve comportar-se como elemento voltado para o bem-estar dos seres humanos e a
produção de conhecimento como atividade pública na luta contra a natureza. Todavia,
uma leitura insensata desses princípios fez com que a racionalidade humana se desviasse
dos critérios da ética e, por conseguinte, envaidecesse os homens a ponto de
influenciar negativamente as relações do mundo contemporâneo.
Mudanças
climáticas, aquecimento global, perda de vegetação nativa, extinção de espécies
e destruição da camada de ozônio são alguns exemplos do que a dominação
predatória da natureza foi e é capaz de refletir em toda vida existente na
ecosfera. A antiga e comum concepção de que conhecimento é poder, quando
erroneamente interpretada e aplicada é responsável por colocar os homens acima dos
demais indivíduos, sob um viés autoritário que não busca a convivência
harmônica com a natureza, mas sim a supremacia dos desejos dos seres humanos a
qualquer custo.
Essa
discussão ganha maior amplitude no longa-metragem “Ponto de Mutação”, no qual
as personagens debatem acerca da relação homem-natureza, afirmando que,
diferente do que diziam os filósofos modernos, os seres humanos e o planeta
são, na verdade, um só, uma só realidade e uma só consciência. Em conformidade
com esse pensamento, inúmeros movimentos de resgate da natureza vêm sendo
disseminados na atualidade, como a proibição do uso de canudos plásticos, a
diminuição do gasto de água e o descarte consciente de resíduos. Contudo,
apesar de significarem o início de uma mudança, essas pequenas atitudes passam
uma falsa ideia de restauração do planeta quando, na realidade, são
insuficientes para reverter toda a destruição que foi feita durante todos esses
anos.
Dessa
forma, a ausência de uma análise mais minuciosa da realidade, como foi proposto
pela própria filosofia moderna, faz a população esquecer o verdadeiro
responsável por essa exploração que se instaurou. A maximização dos lucros que
conduz o modo de produção capitalista tem por base a exploração, alienação e expropriação
da força de trabalho juntamente com a deterioração da base de produção
econômica – a natureza. Logo, a consolidação do capitalismo foi historicamente
sustentada pelo domínio e transformação de tudo em mercadoria, estabelecendo
uma contradição pois, tal postura destrói a base de acumulação desse sistema,
tornando-o insustentável.
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