Conforme explica-nos Mário Ferreira, em Dicionário de filosofia e ciências naturais, a
palavra “ciência” vêm do latim scire, que ao pé da letra significa “saber”. Observa-se que
“ciência” e o “conhecimento das coisas” são pleonasmos que caminham de mãos dadas
desde a alvorada de nossa civilização.
Porém, no contexto do Renascimento e da Modernidade, a ciência (o saber verdadeiro) foi
se encapando cada vez mais de um viés sobre o qual a busca pelo conhecimento deveria
ser limitada a partir de elementos da natureza física-material da realidade, se afastando da
filosofia (metafísica), mediante um ordenamento metodológico.
Sem sombras de dúvidas, a metodologia científica foi uma das maiores invenções da
humanidade - ficando atrás somente de elementos como a agropecuária, música e moeda -,
uma vez que pôde-se realçar sua relevância e compromisso para com o bem comum a
partir de pesquisas capazes de aprimorar as ferramentas e relações humanas, otimizando
nossa vida em sociedade.
À medida que observamos a importância da ciência mediante pesquisas expressa, por
exemplo, no aprimoramento da produção de alimentos, na melhora da expectativa de vida,
no lazer, mais compreendemos a crítica feita por Bacon aos gregos: de que sua produção
de conhecimento se limitava ao saber, não se expandido à realização de obras para
melhorar a condição de sua sociedade. O fazer conhecimento é uma importante ferramenta
para o progresso civilizacional, e sua ausência necessariamente significaria algo deletério
aos nossos construtos.
No entanto, apesar de tais construções sobre a ciência ao longo dos séculos, de todos os
lados, vê-se movimentos de massas que tem como epíteto a negação constante das
pesquisas científicas voltadas para o bem das comunidades. Observa-se o negacionismo
das massas como sendo gerado a partir de falsas construções acerca do mundo motivadas
não unicamente pelas relações sociais (exemplo, redes sociais), como também motivadas
pelas passividades da interferência das paixões e dos objetivos humanos - a saber, as
ideologias. Tem-se, portanto, a ideologia como ídolo de principal vetor para a negação de
pesquisas científicas, certo de que por ser o veneno da alma, ofusca a capacidade do
homem de buscar a verdade, tendo como objetivo somente a satisfação de sua respectiva
narrativa ideológica. Ademias, a formação do senso comum – contrário ao senso científico-
se relaciona, e muito, com a ideologia, dado por a ideologia atingir a região apetitiva da
alma, ao invés da racional; e conforme observava Emmanuel Kant, o senso comum se dá
pela faculdade individual ou coletiva de formar juízos que são atrelados aos objetivos de
seu sentimentalismo em geral.
Apesar do fardo acerca da tétrica ideologia e seu senso comum como motivadores ao
negacionismo, nos mergulhamos em questionamentos sobre onde e quando poderia ser
viável a negação das ciências. Creio eu, que seria onde a Ética começa. Se a ciência
unanimemente assentisse que devemos retornar com a escravidão no Brasil a fim de
erradicar de uma vez por todas as guerras, fomes e enfermidades no mundo, salvando
incontáveis vidas pelas gerações, você a negaria? Os utilitaristas diriam que não, todavia
adeptos de outras éticas diriam que sim. Observa-se que a ciência é sim passiva de um
racional negacionismo.
Mas como podemos observar esses “negacionismos” no dia de hoje? Será que devemos
violar sob agressão o Direito Natural a liberdade e propriedade, a Ética da Liberdade, em
nome da ciência durante a pandemia (liberdade em sobre a segurança, desobediência civil,
etc)? E enquanto às mulheres transsexuais em esportes femininos? Devemos negar a
ciência da anatomia humana em nome de uma ética sobre gêneros na sociedade?
Observa-se que quando se trata de sociedade e ciência, inevitavelmente a filosofia
intervém. Para tanto, faz-se necessária a formação do reconhecimento coletivo de uma
ética absoluta a qual todos invariavelmente se sujeitariam (o que, embora sendo a solução,
é impossível devido ao problema da ideologia). Assim, contanto que a ciência esteja em
conformidade com a ética assumida, não haveria necessidade de negá-la.
Concluindo, observa-se a relevância do uso da razão aplicada limitadamente à realidade
material a partir da Idade Moderna como um importante avanço para nossa civilização, pois
o acúmulo do conhecimento sob pesquisas aprimora nossa vida em sociedade, pois é
atividade pública. Vê-se a existência do negacionismo como sendo causada pelas
enfermidades das ideologias e seus ídolos, além da observação de que sua aplicabilidade
deve ser limitada.
Fernando Carvalho da Silva - Noturno
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