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segunda-feira, 5 de julho de 2021

Reflexôes sobre Ciência e Negacionismo

 Conforme explica-nos Mário Ferreira, em Dicionário de filosofia e ciências naturais, a

palavra “ciência” vêm do latim scire, que ao pé da letra significa “saber”. Observa-se que

“ciência” e o “conhecimento das coisas” são pleonasmos que caminham de mãos dadas

desde a alvorada de nossa civilização.

Porém, no contexto do Renascimento e da Modernidade, a ciência (o saber verdadeiro) foi

se encapando cada vez mais de um viés sobre o qual a busca pelo conhecimento deveria

ser limitada a partir de elementos da natureza física-material da realidade, se afastando da

filosofia (metafísica), mediante um ordenamento metodológico.

Sem sombras de dúvidas, a metodologia científica foi uma das maiores invenções da

humanidade - ficando atrás somente de elementos como a agropecuária, música e moeda -,

uma vez que pôde-se realçar sua relevância e compromisso para com o bem comum a

partir de pesquisas capazes de aprimorar as ferramentas e relações humanas, otimizando

nossa vida em sociedade.

À medida que observamos a importância da ciência mediante pesquisas expressa, por

exemplo, no aprimoramento da produção de alimentos, na melhora da expectativa de vida,

no lazer, mais compreendemos a crítica feita por Bacon aos gregos: de que sua produção

de conhecimento se limitava ao saber, não se expandido à realização de obras para

melhorar a condição de sua sociedade. O fazer conhecimento é uma importante ferramenta

para o progresso civilizacional, e sua ausência necessariamente significaria algo deletério

aos nossos construtos.

No entanto, apesar de tais construções sobre a ciência ao longo dos séculos, de todos os

lados, vê-se movimentos de massas que tem como epíteto a negação constante das

pesquisas científicas voltadas para o bem das comunidades. Observa-se o negacionismo

das massas como sendo gerado a partir de falsas construções acerca do mundo motivadas

não unicamente pelas relações sociais (exemplo, redes sociais), como também motivadas

pelas passividades da interferência das paixões e dos objetivos humanos - a saber, as

ideologias. Tem-se, portanto, a ideologia como ídolo de principal vetor para a negação de

pesquisas científicas, certo de que por ser o veneno da alma, ofusca a capacidade do

homem de buscar a verdade, tendo como objetivo somente a satisfação de sua respectiva


narrativa ideológica. Ademias, a formação do senso comum – contrário ao senso científico-

se relaciona, e muito, com a ideologia, dado por a ideologia atingir a região apetitiva da


alma, ao invés da racional; e conforme observava Emmanuel Kant, o senso comum se dá

pela faculdade individual ou coletiva de formar juízos que são atrelados aos objetivos de

seu sentimentalismo em geral.

Apesar do fardo acerca da tétrica ideologia e seu senso comum como motivadores ao

negacionismo, nos mergulhamos em questionamentos sobre onde e quando poderia ser

viável a negação das ciências. Creio eu, que seria onde a Ética começa. Se a ciência

unanimemente assentisse que devemos retornar com a escravidão no Brasil a fim de

erradicar de uma vez por todas as guerras, fomes e enfermidades no mundo, salvando

incontáveis vidas pelas gerações, você a negaria? Os utilitaristas diriam que não, todavia

adeptos de outras éticas diriam que sim. Observa-se que a ciência é sim passiva de um

racional negacionismo.

Mas como podemos observar esses “negacionismos” no dia de hoje? Será que devemos

violar sob agressão o Direito Natural a liberdade e propriedade, a Ética da Liberdade, em

nome da ciência durante a pandemia (liberdade em sobre a segurança, desobediência civil,

etc)? E enquanto às mulheres transsexuais em esportes femininos? Devemos negar a


ciência da anatomia humana em nome de uma ética sobre gêneros na sociedade?

Observa-se que quando se trata de sociedade e ciência, inevitavelmente a filosofia

intervém. Para tanto, faz-se necessária a formação do reconhecimento coletivo de uma

ética absoluta a qual todos invariavelmente se sujeitariam (o que, embora sendo a solução,

é impossível devido ao problema da ideologia). Assim, contanto que a ciência esteja em

conformidade com a ética assumida, não haveria necessidade de negá-la.

Concluindo, observa-se a relevância do uso da razão aplicada limitadamente à realidade

material a partir da Idade Moderna como um importante avanço para nossa civilização, pois

o acúmulo do conhecimento sob pesquisas aprimora nossa vida em sociedade, pois é

atividade pública. Vê-se a existência do negacionismo como sendo causada pelas

enfermidades das ideologias e seus ídolos, além da observação de que sua aplicabilidade

deve ser limitada.



Fernando Carvalho da Silva - Noturno 

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