A
influência de Descartes e Bacon na mente do homem moderno é inegável. Fascinados
por esse novo método, que buscava uma finalidade prática da ciência, o homem
moderno se viu abandonando a filosofia vigente, a filosofia dos gregos. Em
resposta a isso, o pensamento humano deixa de lado o carácter contemplativo das
ciências e prioriza o seu carácter utilitário. O objetivo da investigação
científica agora é utilizar a razão e a experimentação para transformar,
intervir e dominar a natureza.
Essa
nova base epistemológica gerou inúmeras descobertas positivas nas ciências
exatas e humanas, a nova maneira de pensar o mundo de Descartes e Bacon propõe uma
análise até então nunca feita. Olhar todas as coisas com um olhar minucioso e
questionador deu a ciência da época novos ares. Mas embora tenha tido seus resultados
benéficos, trouxe também consequências terríveis, as quais o mundo vive até
hoje.
Para
Bacon e Descartes, essa nova e verdadeira forma de conhecimento faria do homem
o senhor do mundo. Das grandes navegações à revolução industrial (as grandes
vitórias do mundo moderno e contemporâneo), os eventos serão todos acompanhados
de exploração dos povos e do meio ambiente. Essa concepção de que o homem
poderia dominar o globo provocou o desmatamento, a poluição, aquecimento global
e o abuso de vários pessoas e culturas. O novo método realmente transformou a realidade,
para o seu bem e a sua ruína.
A
importância da contemplação e reflexão dos clássicos gregos, tão criticada pelos
iluministas, tem seu papel quando o assunto é o uso consciente dos recursos
disponíveis à humanidade. É necessário entender a importância e o papel de cada
elemento para saber usá-los com consciência e discernimento. A falta do cartesianismo
foi essa, o olhar racional e especializado que desconsiderou os efeitos a longo
prazo da forte intervenção do fluxo natural da vida.
A
divisão da realidade em várias parcelas também fez com que os pesquisadores se
esquecessem que toda existência faz parte de um grande sistema. Portanto,
quando se interfere em uma parte, mesmo que pequena, desse vasto conjunto, vários
segmentos serão afetados. Tendo como exemplo a revolução industrial, podemos
ver que a mudança no modo de produção impactou: a economia, com o
fortalecimento do capitalismo, a vida social, com o advento do proletariado e
da burguesia industrial, no pensamento da época, com o surgimento das teorias
de Marx, e até na demografia, com o êxodo rural.
Em
suma, o racionalismo moderno proporcionou avanços significativos as gentes, avanços
que facilitaram a vida cotidiana e deram conforto e segurança as pessoas. Contudo,
não se pode ignorar os impactos nocivos dessa nova forma de interpretar o mundo
proposta por Bacon e Descartes. O racionalismo e uma particularização exagerados,
associado a desvalorização de uma filosofia contemplativa, fez os homens
esquecerem que são componentes do planeta, não donos dele. O que o indivíduo
moderno não entendeu, e o contemporâneo começa a compreender, é que quem afeta o
meio em que se vive acaba afetando a si. E que a natureza é um grande sistema, do
qual fazemos parte, e se mudarmos uma parcela se quer, todo resto será abalado.
Laura Lopes de Deus Pires
Direito matutino
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