Destartes foi um pensador do século XVII que enxergou o mundo como um mecanismo, como se a natureza funcionasse com um relógio feito, pois era possível desmontar e reduzir às simples peças, assim, as partes se tornavam fáceis de serem analisadas e assimiladas como um todo. No aclamado filme Ponto De Mutação, uma inteligente cientista pauta-se no pensamento de Descartes para decorrer a ideia de que a ciência possibilitou que complexas engrenagens pudessem ser restritas a chips minúsculos, em contraste, ao conversar com um candidato às eleições dos EUA, afirma que: “a ciência já passou o pensamento mecanista nesta proporção, mas vocês, políticos apresentam ideias de esquerda e de direita tão antiquadas e mecânicas que parecem ter relógios arcaicos dentro de suas cabeças”.
Embora Descartes tenha sido um dos primeiros pensadores da
ciência moderna (incentivou o questionamento das proposições impostas pelas
crenças tradicionais) e o filme retratado tenha sido produzido no ano de 1990,
a perspectiva sobre a ciência e a política da maneira como foi abordada
continuam recorrente e latentes até os dias atuais. A exemplo disso, pode-se
dizer que o mandado do governo Bolsonaro realizou sucessivos cortes de gastos
em pesquisas universitárias e tem apresentado posturas negacionistas em relação
à eficácia das vacinas em meio a pandemia, período quando o Corona Vírus
atingiu de maneira grave todo o país e as medidas de amparo governamental à
população revelaram-se extremamente imprescindíveis. Nessa mesma entoada, outras
lideranças têm apresentado uma postura que fere com a laicidade do Estado e
recupera uma visão dogmática religiosa datada de tempos da Idade Média assim
evidenciado na seguinte frase da ministra Damares Alves: “é o momento de a
igreja ocupar a nação”.
Esse crescente fenômeno de negacionismo aos avanços
científicos refreia um pensamento racional crítico e abre margem para o
fortalecimento do senso comum. De acordo com o autor José Koche em sua obra Fundamentos de Metodologia Científica: teoria da
ciência e prática da pesquisa, o senso comum é a forma mais usual que o
homem utiliza para interpretar a si mesmo, pois ele surge como consequência da
necessidade de resolver os problemas mais imediatos da vida prática, em outras
palavras, à medida que a vida vai acontecendo, o senso comum se desenvolve
seguindo a ordem natural dos acontecimentos. Por isso, há uma tendência de
manter o sujeito que elabora como um espectador passivo da realidade,
atropelado pelos fatos, “é um viver sem conhecer”. Essa linha de conhecimento
baseada no subjetivismo emotivo representa aquilo que Francis Bacon denomina
por Ídolos uma vez que prendem os homens a preconceitos,
crenças e falsas percepções de mundo, por conseguinte, impedem o pensamento
crítico e a construção do verdadeiro conhecimento, abrindo espaço para teorias
que refutam a ciência.
Portanto, é notável que grandes
pensadores da ciência moderna, como Descarte e Bacon, estudados nas aulas de
Sociologia desenvolveram conceitos e métodos de análise que continuam sendo
imprescindíveis para o desenvolvimento racional critico na contemporaneidade,
pois permitem uma opinião fundamentada e reflexivas a respeito dos fenômenos que
circundam a sociedade mesmo em meio a crescente onda de extremismos
ideológicos, pensamentos religiosos dogmáticos, negacionismo cientifico e
subjetivismo do senso comum.
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