Total de visualizações de página (desde out/2009)

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Razão e Ciência Moderna

            Para Francis Bacon (século XVII), o conhecimento era produzido, ao passar por duas vias principais. Essas com problemas no que referia ao método. Na primeira via, o intelecto se fiava nas forças dialéticas, porém sem partir da experiência, o que incrementava a dialética vulgar, mas não desvelava a real que estava posto. Na segunda, buscava a verdade a partir dos sentidos, ascendendo de maneira contínua até última instância e alcançando a máxima generalidade.

            A última via até então não havia sido instaurada. O pensador e filósofo destacou que o intelecto - na mente sóbria e não obscurecida por doutrinas recebidas - tentava alçar voos mais altos, entretanto, isso só era possível quando ele era regulado e apoiado por noções novas. O novo instrumento (ou via) deveria ser ordenado e abstraído de fatos particulares, e, sucessivamente, indicaria novos fatos particulares, a fim de se tornar o conhecimento científico ativo. Assim, a própria natureza das coisas superaria a mera argumentação (dialética vulgar) na “descoberta de novas verdades”.

         Desse modo, a formação de novas noções pela verdadeira indução consistiria na interpretação da natureza e não nas antecipações da natureza. Bacon defendia que o intelecto humano esbarrava em falsas noções ao tentar se aproximar da realidade das coisas: os ídolos. O filósofo apontou quatro ídolos, quais sejam: os ídolos da Tribo; da Caverna; do Foro e do Teatro. As falsas percepções dos sentidos e da mente, ao guardar “analogia com a natureza humana e não com o Universo” criava ídolos da tribo, que restringiam o método a um conhecimento equivocado, sobretudo pela interferência de sentimentos, pela incompetência dos sentidos e pelas limitações humanas;

             O consórcio entre homens doutos, que se defendem por meio da disseminação de falsas ideologias, como atualmente acontece entre políticos, naquele contexto gerava ídolos do foro. Desse modo, juntavam-se por compartilhar de um pensamento inverídico/vulgar e por desconhecer a verdade das coisas; As falsas representações, ou seja, distorções teatralizadas da realidade foram denominadas ídolos do teatro. A tradição e credulidade dogmática externalizavam e ainda hoje evidenciam esse fenômeno social.

             Por fim, a não clareza das coisas ao se distanciar os olhos de quem as vê da “luz da natureza”, por estarem presos em suas próprias covas/cavernas, ou a suas singularidades, tangenciavam uma turva visão de homem e de mundo (distante da visão do Universal) captada não somente nas críticas Platônicas – Mito das Cavernas de Platão – e no período do Medievo, mas por Bacon, nos primórdios da Era Moderna. Tais convicções falsas também podem ser apreendidas de outrem, como figuras de autoridade (pais e educadores), variando de acordo com o espírito de cada ser, que também pode estar sujeito a perturbações ou ao acaso, assim como aos próprios sentidos: ídolos da caverna.

          Hodiernamente, ainda que método baconiano tenha sido superado por outras correntes teóricas, poderíamos recorrer a ele para desmistificar coisas atualíssimas, como os preconceitos: étnico-raciais, de gênero, de orientação sexual e de classe social (ídolos da tribo). Há que se destacar, também, as “limitações” humanas oriundas do meio social em que se foi educado (desenvolvendo-se hábitos ruins). Além dessas, para Bacon, existem limitações da alma e da constituição do corpo físico, que são características de cada ser. Paradoxalmente, na sociedade mercadológica contemporânea (século XXI), que segue os ditames do grande Capital, o humano sem aptidões físicas condizentes com padrão de reprodução das relações de produção, sofre preconceitos. Desse modo, é incluído precariamente no mundo do trabalho, por não se “adequar” às tarefas que são impostas metodicamente aos “capacitados”, tanto para a produção de bens tangíveis, quanto de intangíveis, de modo a se preservar o “status quo” na atual sociabilidade burguesa. 

             Danusa Barbosa Diniz – 1 º ano Direito/Diurno

Nenhum comentário:

Postar um comentário