Total de visualizações de página (desde out/2009)

segunda-feira, 5 de julho de 2021

A atual face retrógrada contra a ciência


 Entre o empirismo e a razão. A busca pelo conhecimento verdadeiro é inerente ao instinto investigativo do ser. Desde os primórdios da sociedade, mais especificamente a partir da ascensão do pensamento filosófico, no período Clássico grego, a questão epistemológica encontra-se intrínseca à humanidade. Nesse contexto, inúmeros pensadores desenvolveram métodos para buscar o saber de forma mais fiel possível. Dentre eles, o filósofo francês René Descartes e o inglês Francis Bacon, que se destacam ao construírem métodos que revolucionaram o pensamento filosófico científico.

    Desse modo, Bacon, ao guiar a mente humana por meio dos sentidos, desenvolveu um processo totalmente empírico para obtenção do conhecimento, sendo considerado, por isso, o pai da Revolução Científica. O inglês valorizava a razão, entretanto, acreditava que ela só traria resultados pertinentes se vinculada à experiência, já que afirmava que só os sentidos levariam ao conhecimento, descartando o método indutivo de Aristóteles. A respeito dos números, Bacon considerava-os sujeitos a falhas, logo, deve-se valorizar sempre as experiências sociais para interpretar a humanidade. Como exemplo, consoante a Austin Rating, o Brasil ocupa a posição de 13° maior economia do mundo, com o 19° mais elevado PIB, todavia, ao analisar a realidade da população brasileira e a desigualdade socioeconômica enraizada no país, conclui-se que os dados representam um cenário irreal, que não condiz com a verdade da maioria dos cidadãos. Portanto, para Bacon, a experiência é a chave para a interpretação. 

      Por outro lado, seguindo a vertente racional, René Descartes desenvolveu seu método cartesiano. Assim, para o francês, diferentemente do pensamento baconiano, os sentidos podem enganar, desse modo, a experiência não constitui um caminho seguro para obtenção do conhecimento verdadeiro. Descartes afirmava que a verdade encontra-se nos números e que se deve duvidar de todas as coisas até atingir o conhecimento real. Para o francês, ao contrário do empirismo aplicado por Bacon, os sentidos humanos podem ser manipulados e influenciados por em “Gênio Maligno”, o que ocasionaria uma interpretação errônea do real. Por isso, a única forma segura de adquirir conhecimento é através da racionalidade.

     Destarte, ambos os pensadores desenvolveram, há quatro séculos, métodos, mesmo que distintos, científicos e profundos para obtenção do conhecimento. Contudo, no cenário atual, tais processos pela busca da verdade estão sendo negados, vivendo-se num mundo de pós-verdade, no qual a razão e a experiência estão sendo trocados por rasas opiniões e perspectivas do real, resultando em inúmeros conhecimentos falsos e na disseminação de informações equivocadas, simplesmente porque as mesmas são convenientes à quem as dissemina. Alastram-se as famosas “fake news”, que atualmente vêm ganhando uma dimensão tão grande que contribuem para a formação de movimentos negacionistas. Como por exemplo de tais movimentos, observa-se, em plena pandemia de covid-19, a ascensão de grupos antivacina que, ao negarem a ciência, prejudicam não só a si mesmos, mas à sociedade como um todo. Sendo assim, mesmo os métodos de Descartes e Bacon sendo  desenvolvidos há quatro séculos, a urgência para suas implementações na sociedade é mais atual que nunca. 


beatriz ferraz gorgatti - 1°ano de direito matutino


Nenhum comentário:

Postar um comentário