É inegável que o Brasil está passando por uma grande onda conservadora nos últimos anos. Esse conservadorismo consiste para nós num retrocesso em diversos setores, sejam eles sociais ou científicos.
É interessante observar que um dos indicadores dessa onda é o crescimento do apoio popular a partidos de direita e extrema direita. A relação dos dois é dada devido a ideia de uma ordem estagnada e constante, tão presente na política de direita, ser uma das bases do conservadorismo.
Ademais, em Revisão do Pensamento Conservador: ideias e política no Brasil, de Gabriela Nunes Ferreira e André Botelho, é possível concluir que ambos partilham também de um grande apego a organizações tradicionais de hierarquia. Como exemplo dessas organizações podem ser citadas as instituições da família e da religião cristã. Essas instituições visam manter os critérios tradicionais (em alguns sentidos até arcaico) de organização da sociedade. Entretanto, diversos desses critérios sequer têm fundamento científico e são baseados exclusivamente na repetição e no senso comum. Portanto, o apoio cego a essas ideais estreita o avanço de uma sociedade igualitária e exclui aqueles que não fazem parte do modelo tradicional dessas instituições.
Além disso, ao usar as palavras de Guilherme Gomes Ferreira. Doutorando em Serviço Social pela PUC-RS:
Esses projetos conservadores não teriam força se não refletissem o pensamento comum, aquele que é buscado para explicar, de forma mais imediata e rudimentar possível, as situações complexas que não são facilmente compreendidas
Fica evidente como a adoção do conservadorismo contribui com o retrocesso científico, afinal, a concepção da ideologia conservadora é completamente oposta às bases epistemológicas da ciência moderna, em que Descartes diz que para chegar à “verdade científica” é necessário vencer as próprias convicções. Ou seja, para se fazer ciência de forma eficiente, é necessário abandonar o senso comum.
Enquanto isso, o conservadorismo possibilita que o consenso comum seja estipulado como o correto e não seja necessário ter senso crítico com si mesmo ou com o meio. Na lógica conservadora o certo é certo simplesmente por ter sido a condição em que o mundo esteve por diversos anos.
Todavia, é importante ressaltar que nem a filosofia de Descartes, nem a Bacon, era vazia de família ou de Deus, mas sim, capaz de conciliá-los a um método científico. Ambos os contribuintes das bases epistemológicas da ciência moderna concordavam na existência do divino, porém reconheciam a necessidade de desenvolver um método científico o menos falho possível e uma ciência voltada para o bem do homem.
Nesse viés, a maneira mais eficiente de enfrentar essa onda conservadora é compreender por que e como ela teve um impacto tão intenso na população e as táticas usadas pelos partidos de direita que apoiam a lógica do conservadorismo. Uma das táticas mais evidentes é citada pela socióloga Angela Alonso em entrevista para o jornal El País, que diz: “Todo mundo fala que a vitória do Bolsonaro e do Trump se deu graças à maneira eficiente como eles utilizaram novas tecnologias de comunicação. Mas não se trata só do WhatsApp, e sim uma nova maneira de falar com as pessoas. Eles entenderam que agora se fala muito por imagem e falas curtas, não longos discursos explicativos. A lógica é rápida.”
Ambos os políticos citados na fala de Alonso são conhecidos por defenderem ideais conservadores, e ao fazer uso do senso comum junto a uma comunicação fácil e comum na internet, foram bem sucedidos em fazer campanhas eficazes que alcançassem uma enorme porcentagem de suas populações.
Isto posto, a única maneira de combater a onda conservadora brasileira e preservar a ciência e o progresso é mobilizando-se, modernizando a maneira com que se discute a ciência, tornando acessível a todos, instigando que a população se questione e vença as próprias concepções, para, assim como Descartes afirma, chegar a uma “verdade científica".
Vitoria Talarico de Aguiar, diurno
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