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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A ética que engorda a porca

       "Aquele que mata um porca prenhe, destrói sua descendência até a milésima geração". Essa é a metáfora utilizada por Benjamin Franklin para a multiplicação do dinheiro.
       Essa ética, esse modo de agir em relação ao capital é o que Weber descreve como "espírito do capitalismo", a racionalização do uso do dinheiro. Segundo essa prática moderna, o capital deve ser utilizado de modo racional para que gere novo capital. Dinheiro pelo dinheiro, pura e simplesmente. Deve-se alimentar bem a porca para que esta gere novos porcos e esses porcos, por sua vez, mais porcos dando início a um negócio que gerará cada vez mais lucro para o dono dos porcos.
       É uma prática que faz sentido, não há dúvidas. No entanto, os objetivos de Weber são de determinar da onde ela surgiu e como se espalhou de forma tão eficiente pelo mundo, uma vez que não é um modo de agir necessariamente prazeroso. De fato, é um costume que mata o uso espontâneo do dinheiro. É retirado do ser humano a opção de não acumular capital, de dispor do mesmo da forma que lhe bem entender, mesmo que isso gere algum prejuízo. O indivíduo ou empresa que não se adequa a esse modo de produção não possui lugar no mercado pois é enxergado como irresponsável e displicente. Não é à toa que, ao se deparar com alguém que vive com o mínimo possível, não o veja com bons olhos independentemente se ele gasta o resto do seu dinheiro com futilidades ou com doações a instituições de caridade. O simples fato dessa pessoa não acumular capital parece fugir à realidade.
       Mas como isso chegou tão longe? Auxiliado pela ética protestante, segundo Weber. O modo de agir pregado pelo protestantismo foi o parceiro que impulsionou a propagação do espírito capitalista pelo mundo. Segundo a ética protestante, o mundo é repleto de vícios e pecados e é preciso "lutar a boa luta da fé" (Timóteo 6,12), manter-se no caminho sem prestar atenção às distrações. Desse modo, Deus lhe concederá suas graças, das quais deve se tomar conta e multiplicar como na parábola dos talentos (Matheus 25,14-29). Desse modo, portanto, o capital é elevado de coisa mundana para o status de graça divina e o trabalho se torna a atividade que manterá o servo do Senhor no caminho certo.
       No entanto, com a evolução das práticas capitalistas, a ética protestante se desprendeu da própria religião que lhe deu origem, passando a ser uma prática cultural do ocidente. Hoje, esse mesmo modo de agir frente ao acúmulo de capital se agregou a diversas religiões e culturas, a princípio, hostis em relação a ele. Se vive hoje em uma realidade cultural global de engorda da porca.

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