Em meados do século XIX, nascia na
Alemanha o renomado intelectual e importante pensador Max Weber. Este, em sua
obra “A ética protestante e o espirito do capitalismo”, analisou profundamente
a ligação entre o pensamento cultural e o ímpeto socioeconômico que de muito
influenciou a história ocidental.
De fato, mais de um século após a
publicação de seu texto na Alemanha, podem-se observar exemplos dos fenômenos
previstos na forma em que os governos europeus administram-se e seus
governantes discursam neste período de crise econômica.
Ainda que as raízes dessa crise
possam ser traçadas desde a década de 90, por motivos diversos desde a
especulação imobiliária no mercado americano até a crise do crédito no sistema
bancário; há que se analisar o contexto do ponto de vista religioso-cultural,
tal qual Weber fez em sua obra.
Ora, o euro é uma das mais
importantes moedas em circulação e foi estruturado sobre o Marco Alemão, que
era uma das divisas mais fortes em poder de compra até sua extinção. Beira o
óbvio, geográfico e histórico, as similaridades das nações que o adotaram:
Tradicionais economias, com forte indústria, grandes habilidades comerciais e
culturalmente influenciadas pelo protestantismo (seja de Calvino ou Lutero).
Esses países são os que, hoje, lutam para manter a União Europeia e sua
representatividade no mercado mundial.
No outro extremo da crise da
Europa, encontram-se os países de matriz voltada para o catolicismo (romano e
ortodoxo), agrupados no acrônimo PIIGS: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e
Espanha. Países estes, que senão integrando o mercado comum europeu, usando uma
moeda forte e com acesso a ótimas oportunidades de crédito, estariam afundados
na lama.
Ainda que exista diversos motivos
que façam esses grupos destoarem de forma tão extrema, é possível delimitar a
influência do fator cultural sobre a forma que organizam suas economias,
inclusive em tempos de crise.
A população dos países da chamada “EUROPA
RICA” (aqueles de maior proximidade com o Mar do Norte, incluindo a França) se
caracteriza por um alto grau de frugalidade, planejamento econômico familiar
voltado para a poupança e capacidade de cortar despesas em tempos de vacas
magras. Tal pragmatismo reflete-se em sua administração publica esta
extremamente austera, cautelosa em seus investimentos e compromissos
financeiros, com um sistema previdenciário bem administrado e sem grandes
déficits nas contas estatais. Não faltam, assim, paralelos com a doutrina cristã
protestante que teve seu berço nesta região.
Por outro lado, os países mediterrâneos
juntamente da Irlanda, não fossem as seguranças possibilitadas pela
participação no mercado comum europeu, pelo uso de uma moeda forte e acesso a
crédito facilitado, seriam países com economias ainda mais enfraquecidas. Desde
sua inclusão na União Européia, estes países - com indústria pouco
significativa e muito menos eficiente – esbanjaram gastos, executaram obras dispendiosas,
elevaram seus gastos com importações, inflaram o serviço publico, reduziram a
jornada de trabalho e o tempo de contribuição com a previdência. É importante
acrescentar que nestes países o catolicismo é extremamente forte e sua doutrina
em muito reflete na mentalidade destes povos.
De todas as formas de se observar
uma crise econômica, o viés cultural ainda se mostra de suma importância para a
construção de uma analise mais holística, menos ortodoxa. E, neste sentido, Max
Webber possibilitou uma forma de se pensar a realidade que não se atêm ao fator
econômico, mas também a outros aspectos da experiência social.
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