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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A crise européia e o pensamento de Weber


Em meados do século XIX, nascia na Alemanha o renomado intelectual e importante pensador Max Weber. Este, em sua obra “A ética protestante e o espirito do capitalismo”, analisou profundamente a ligação entre o pensamento cultural e o ímpeto socioeconômico que de muito influenciou a história ocidental.
De fato, mais de um século após a publicação de seu texto na Alemanha, podem-se observar exemplos dos fenômenos previstos na forma em que os governos europeus administram-se e seus governantes discursam neste período de crise econômica.
Ainda que as raízes dessa crise possam ser traçadas desde a década de 90, por motivos diversos desde a especulação imobiliária no mercado americano até a crise do crédito no sistema bancário; há que se analisar o contexto do ponto de vista religioso-cultural, tal qual Weber fez em sua obra.
Ora, o euro é uma das mais importantes moedas em circulação e foi estruturado sobre o Marco Alemão, que era uma das divisas mais fortes em poder de compra até sua extinção. Beira o óbvio, geográfico e histórico, as similaridades das nações que o adotaram: Tradicionais economias, com forte indústria, grandes habilidades comerciais e culturalmente influenciadas pelo protestantismo (seja de Calvino ou Lutero). Esses países são os que, hoje, lutam para manter a União Europeia e sua representatividade no mercado mundial.
No outro extremo da crise da Europa, encontram-se os países de matriz voltada para o catolicismo (romano e ortodoxo), agrupados no acrônimo PIIGS: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. Países estes, que senão integrando o mercado comum europeu, usando uma moeda forte e com acesso a ótimas oportunidades de crédito, estariam afundados na lama.
Ainda que exista diversos motivos que façam esses grupos destoarem de forma tão extrema, é possível delimitar a influência do fator cultural sobre a forma que organizam suas economias, inclusive em tempos de crise.
A população dos países da chamada “EUROPA RICA” (aqueles de maior proximidade com o Mar do Norte, incluindo a França) se caracteriza por um alto grau de frugalidade, planejamento econômico familiar voltado para a poupança e capacidade de cortar despesas em tempos de vacas magras. Tal pragmatismo reflete-se em sua administração publica esta extremamente austera, cautelosa em seus investimentos e compromissos financeiros, com um sistema previdenciário bem administrado e sem grandes déficits nas contas estatais. Não faltam, assim, paralelos com a doutrina cristã protestante que teve seu berço nesta região.
Por outro lado, os países mediterrâneos juntamente da Irlanda, não fossem as seguranças possibilitadas pela participação no mercado comum europeu, pelo uso de uma moeda forte e acesso a crédito facilitado, seriam países com economias ainda mais enfraquecidas. Desde sua inclusão na União Européia, estes países - com indústria pouco significativa e muito menos eficiente – esbanjaram gastos, executaram obras dispendiosas, elevaram seus gastos com importações, inflaram o serviço publico, reduziram a jornada de trabalho e o tempo de contribuição com a previdência. É importante acrescentar que nestes países o catolicismo é extremamente forte e sua doutrina em muito reflete na mentalidade destes povos.
De todas as formas de se observar uma crise econômica, o viés cultural ainda se mostra de suma importância para a construção de uma analise mais holística, menos ortodoxa. E, neste sentido, Max Webber possibilitou uma forma de se pensar a realidade que não se atêm ao fator econômico, mas também a outros aspectos da experiência social.

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