O capitalismo exige que todo e qualquer indivíduo, para
conquistar uma vida verdadeiramente realizada e boa, se trabalhe
incessantemente. Não só isso, mas não permite aos indivíduos o privilégio de desfrutar
dos frutos advindos do próprio suor – ou do suor alheio, diga-se de passagem – já
que o verdadeiro capitalista, inserido completamente nessa mentalidade, não
pode deixar sequer por um instante de investir na obtenção de mais e mais
capital.
Desta forma, se todo o ideal capitalista se fizesse
concretizado na sociedade contemporânea, certamente o conceito de “aproveitar a
vida” estaria ainda mais subjugado à “bitolação” da necessidade incessante de
trabalhar. Chega a ser difícil acreditar que é possível aumentar ainda mais a
valoração do inquestionável “trabalhar” - “obviamente necessário para que se
alcance a felicidade” – sobre o dispensável “aproveitar”, que a cada dia se faz
mais marginalizado nas necessidades das pessoas.
Para que se possa ilustrar um mínimo de como se faria uma
sociedade completamente dominada pelo inescrupuloso “Espírito do Capitalismo”,
serve muito bem de exemplo imaginar uma cidade onde todos os habitantes fossem
como as personagens Ebenézer Scrooge, de Charles Dickens (1812-1870), e Tio Patinhas,
das indústrias Disney. Não haveria sequer a remota possibilidade de um sorriso
ser vislumbrado por motivo que não o acúmulo de mais dinheiro. O brilho de uma
moeda caída no chão da rua seria justificativa mais do que suficiente para que
se iniciasse uma briga generalizada entre os moradores da triste cidade.
De toda forma, é difícil que o “curtir a vida” seja
completamente excluído da vida das pessoas. Principalmente no Brasil, onde o
festeiro espírito da malandragem se faz quase que onipresente. Tomara que isso
continue assim. Ninguém gostaria de conviver só com Scrooges no dia a dia.
Só resta uma pergunta: será que, assim como os Fantasmas dos Natais Passados, Presentes e Futuros, o Espírito do Capitalismo também irá fazer visitas a pessoas como Ebenézer e Tio Patinhas para fazê-las refletir a respeito da vida?
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