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domingo, 10 de abril de 2011

Bacon com pitadas de Capra

Nos últimos quatro séculos, observou-se uma explosão de conhecimentos científicos, de inovações que muito contribuíram para o progresso da humanidade. Dentre elas estão a máquina a vapor que alargou a produtividade, o desenvolvimento da medicina que contribuiu para prolongar a existência humana, o avião que “encurtou” distâncias. Diante delas, Descartes e Bacon ficariam extremamente satisfeitos e orgulhosos. Porém, essas mesmas inovações que trouxeram tantos benefícios a nossa espécie também nos causaram algumas desgraças. A máquina a vapor, no século XVIII, substituiu a força de trabalho de muitos homens que, inevitavelmente, tornaram-se miseráveis; as novas tecnologias da medicina foram desviadas para a criação de armas biológicas; o avião foi utilizado como ferramenta bélica (vale destacar que tal feito provocou o suicídio de Santos Dumont, seu inventor).

Não pretendo aqui tecer um discurso contrário ás inovações; somente faço um parênteses para analisá-las e chegar à conclusão que elas são uma “faca de dois gumes” e que, portanto, devem ser aplicadas com extremos cuidados. Contudo, acho difícil que, diante de uma situação em que a aplicação das tecnologias seja favorável àqueles que as detêm , exista cautela e preocupação com as consequências do uso delas, em âmbito global. Um exemplo disso foi a bomba atômica que, sendo favorável naquele momento aos EUA (o detentor da tecnologia), foi utilizada, dizimando Hiroshima e Nagasaki.

Fritjof Capra, na obra “Ponto de Mutação”, defende a Teoria dos Sistemas Vivos, segundo a qual existe uma relação de interdependência entre todos os seres e os ambientes. Assim, se constitui uma teia viva formada por conexões. Um desequilíbrio no inicio da teia gera reflexos em todo o seu curso, sendo perceptível pelo último ser que a integra. Voltando ao exemplo da bomba atômica e seguindo a Teoria dos Sistemas Vivos, Capra diria que a ação dos EUA (utilizar a inovação) promoveria um desequilíbrio do sistema e seus reflexos seriam sentidos até mesmo por esse país.

Outro exemplo mais simples e atual seria a construção da Usina de Belo Monte. Bacon defenderia com unhas e dentes a execução do projeto, afinal o pensador o analisaria como uma forma de domar a natureza em favor do progresso humano. Já Capra, a partir de uma nova perspectiva, seria contrário ao projeto, visto que a feroz intervenção na natureza poderia provocar desequilíbrios (ecológicos e sociais) em âmbito global.

Acredito ser extremamente difícil conciliar os paradigmas defendidos por Bacon e Capra. Este defendendo um sistema sustentável e aquele as inovações sem limites. Enfim, cabe a cada um decidir se estamos diante de um “Ponto de Mutação”, isto é, se ainda é válido seguir, cartesianamente, a ciência proposta por Bacon ou se chegou o momento de inserir pitadas das ideias de Capra na vida científica.

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