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domingo, 10 de abril de 2011

Em "Ponto de Mutação", uma cientista, um político e um artista debatem a ciência moderna e os impactos do progresso científico no planeta. A discussão fictícia entre os três é o veículo usado para transmitir as idéias de Fritjof Capra, autor de um livro de mesmo nome que deu origem ao filme. Capra critica o método científico, que ele julga interpretar a natureza de forma mecanicista, os efeitos do progresso humano no planeta e a relação entre cientistas e governos. Além disso, sugere que a física quântica aproxima a ciência positiva da teologia e da metafísica.

Como a intenção da obra é obviamente divulgacionista, o debate caminha sempre no sentido de valorizar os pontos centrais da filosofia proposta pelo autor. A cientista é a personagem mais nitidamente identificável com Capra, enquanto o político e o artista, dentro dos arquétipos que representam, fazem o papel do espectador, transportando para a tela algumas dúvidas e críticas que podem surgir em quem a assiste (e, assim, servindo de "escada" para que o filme as responda). Para conferir máxima sedução aos argumentos, contribuem ainda a ambientação e o ritmo, que dão uma feição elevada e reflexiva à conversa, e a credibilidade que recobre os personagens escolhidos para serem vetores da discussão: não é qualquer cientista, nem qualquer político, nem qualquer artista, mas uma física de destaque, um ex-candidato à presidência e um poeta profundo e subestimado.

Quanto aos argumentos apresentados no filme, a divisão que Capra critica parece nunca ter afetado de verdade a ciência, já que seus problemas, até onde é do meu entendimento, sempre que enfrentados por bons cientistas, não foram encarados desconsiderando a totalidade das relações naturais. A separação da ciência em ramos já era muito antes de Capra entendida como artificial e de natureza utilitária. O autor também critica os efeitos do progresso científico no meio ambiente. Nesse caso não se pode refutá-lo, a princípio, mas é preciso levar em consideração que tais efeitos tem mais a ver com a superexploração de recursos relacionada à explosão populacional, ao consumismo e ao desperdício do que com a necessidade de uma transformação do método científico no modelo de ciência "sistêmica" defendido por ele. Talvez Capra acerte quando insinua a necessidade de um novo paradigma na relação entre governo, cientistas e sociedade - mas deixa difícil de identificar, no seu discurso, como isso aconteceria na prática, e também exagera quando faz parecer que a ciência sempre é pervertida aos interesses do poder.

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