A discussão a respeito das filosofias de Descartes e Bacon
na contemporaneidade se mostra extremamente necessária. O motivo seria que, principalmente
a partir do século XXI, a busca da verdade passa por um momento de crise.
Um dos indicadores desse fato seria o aumento em 2000% do
uso do termo “pós-verdade” na Internet em 2016, ano em ele foi considerado como
“Palavra do ano” pelo “Oxford Dictionaries”, departamento da Universidade de Oxford
responsável pela elaboração de dicionários que elege anualmente uma palavra
para a língua inglesa.
De acordo com o próprio “Oxford Dictionaries”: a “’Pós-verdade’
deixou de ser um termo periférico para se tornar central no comentário
político, agora frequentemente usado por grandes publicações sem a necessidade
de esclarecimento ou definição em suas manchetes”.
Ou seja, a “pós-verdade” está intimamente relacionada com a
disseminação de notícias falsas (ou “Fake News”) em diversos meio virtuais com
o intuito de favorecer determinados grupos políticos ou de impor alguma visão
de mundo sobre o leitor usando argumentos falaciosos e dados manipulados ou
mentirosos.
E qual seria a relação de Bacon e Descartes com o século XXI
no que se diz respeito à busca da verdade?
Esses dois pensadores propuseram métodos racionais para que possamos
alcançar um conhecimento verdadeiro. Por mais que hajam diferenças nos modos de
pensar dos dois autores, ambos são nomes extremamente importantes no que ficou
conhecido como “Revolução científica”, ou seja, a partir da Idade Moderna a
produção do conhecimento passou a se vincular a formas empíricas de se constatar
os fatos. No entanto, é justamente a ausência dessa reflexão sobre a realidade atual
por grande parcela da sociedade que permite a disseminação das “Fake News”, por
exemplo. É possível, inclusive, usar algumas ideias defendidas por Bacon e
Descartes como crítica e como uma maneira de minimizar os impactos da
pós-verdade, tomando cuidado apenas para que não caiamos em anacronismos.
Na obra de Francis Bacon, “Novum Organum”, no aforismo XII,
temos que: “A lógica tal como é hoje usada mais vale para consolidar e
perpetuar erros, fundados em noções vulgares, que para a indagação da verdade,
de sorte que é mais danosa que útil”. Podemos entender essa ideia usando como
exemplo o compartilhamento de notícias falsas advindas de fontes únicas e que
possuem algum viés ideológico marcado pelas pessoas que a recebem, deixando a “indagação
da verdade” em segundo plano. É preciso que abandonemos o subjetivismo.
Já na obra cartesiana “O discurso do método”, na parte 4,
Descartes escreve que é preciso “rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em
que pudesse supor a menor dúvida”. Essa afirmação pode ser observada como um
dos passos de seu método que, assim como Bacon, objetiva encontrar a verdade. Caso
ela fosse largamente aplicada ao contexto da pós-verdade, teríamos uma redução
significativa do impacto desse fenômeno em variadas áreas, como a política, por
exemplo.
É importante ressaltar que quando falamos sobre os impactos da circulação de mentiras na política (fenômeno inerente a pós-verdade), no entanto, o pensador que mais escreveu sobre isso não foi Bacon,
Descartes nem nenhum outro pensador contemporâneo. Em sua obra “A república”,
Platão defende a prevalência da verdade dentro da política como um fato importantíssimo,
já que “uma sociedade que aplaude a sistemática decisão política em
distanciamento progressivo da complexidade da busca da verdade, é uma sociedade
que cava sua própria sepultura”.
DIOGO PERES TEIXEIRA - DIREITO 1º ANO - MATUTINO
DIOGO PERES TEIXEIRA - DIREITO 1º ANO - MATUTINO
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