O ano era 1917 e emergia em plena Rússia Imperial um coletivo de mulheres, cuja organização e articulação culminou no maior protesto feminino registrado até então: foram 150 mil manifestantes no movimento, iniciado em 8 de março. Tratava-se do estopim da Revolução Russa, nos moldes sufragistas, que levou à abdicação do Czar Nicolau II de seu trono, apenas uma semana depois da ação feminina. Com isso, passou-se a comemorar o Dia da Mulher em todos os países do bloco soviético. Somente 58 anos depois, em 1975, o dia 8 de março foi estabelecido como Dia Internacional da Mulher por todos os países pertencentes às Nações Unidas.
Nesse sentido, cabe ressaltar primeiramente que o movimento de emancipação feminina assume características importantes do racionalismo, visto que René Descartes acreditava que a ciência devia ser prática e não especulativa. Além disso, o filósofo via nos questionamentos a expressão da realidade, em suas palavras: “Para examinar a verdade, é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em dúvida o máximo possível”. E foi exatamente isso que as mulheres fizeram em Petrogado - questionaram sua sufocada existência no âmbito social e político e colocaram em prática a máxima cartesiana “Cogito ergo sum” (Penso, logo existo). A Mulher, enfim, conquistava expressividade e buscava sua identidade no exercício da mesma.
Desse modo, munidas de questionamentos e inquietações, as mulheres transgrediram os dogmas vigentes, conquistando gradativamente seus direitos. No entanto, o estigma do machismo ainda permanece incisivo e contempla uma experimentação prática, semelhante àquela proposta por Francis Bacon. Exemplarmente, quando submetidas às mesmas funções que homens (com qualificação profissional também análogas) as mulheres ganham 25% menos, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Dessa forma, o feminismo assume caráter científico tanto ao contemplar à esfera racional, quanto ao estar submetido à experiência infeliz do contexto da sociedade patriarcal conservadora, ainda existente.
Em suma, é irrefutável que a ação política também é uma ação filosófica, cuja semelhança com a metodologia científica é categórica. Sendo assim, torna-se imprescindível reconhecer o feminismo não só como manifestação ideológica, mas também como parte da evolução natural da racionalidade humana.
Por Diego Malvasio Bertolino do 1º Ano em Direito Noturno na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).
Nenhum comentário:
Postar um comentário