O
filósofo Francis Bacon, em seu livro Novum Organum, afirma que, para alcançarmos
o conhecimento, é necessário alcançar a “cura da mente”, ou seja, erradicar de
nosso pensamento algumas noções falsas, chamadas por ele de “ídolos”, que absorvemos
como corretas ao longo de nossas vidas por assim nos ser ensinadas e que tornam
o conhecimento verdadeiro mais difícil de ser acessado. Para isso, ele propõe a
cura de quatro ídolos, sendo eles da tribo, da caverna, do foro e do teatro, a
fim de que a mente humana possa chegar à verdade sem interferências. Chama-se
de ídolos da tribo as limitações da própria humanidade, passando por gerações, como
por exemplo os preconceitos enraizados (homofobia, racismo, machismo), que, na
verdade, fazem parte de um senso comum, difundindo a inferioridade desses
indivíduos em relação aos outros, mas que apesar de nenhuma base ou fundamento,
perduram até hoje na sociedade. Há também os ídolos da caverna, baseado no mito
da caverna de Platão, que são limitações do próprio indivíduo, o qual não
aceita opiniões distintas às dele, como por exemplo a forte polarização vivida
no Brasil desde 2018, com as eleições, em que as pessoas passaram a brigar por
candidatos que apoiavam, chegando ao ponto de a resposta dos apoiadores do
presidente eleito se tornar motivo de piada, uma vez que não podiam ler
qualquer crítica sobre o novo mandato que comentavam “mas e o PT?”. Isso mostra
que os indivíduos bloquearam suas mentes para opiniões alheias, escolhendo suas
relações com base na semelhança de pensamento, o que também tem a ver com os ídolos
do foro. Estes se associam pelo discurso, não importando sua veracidade, sendo bem
colocado aqui o exemplo do terraplanismo, uma vez que os adeptos se unem por suas
ideias, mas que não são comprovadas, sendo uma distorção da realidade que, para
eles, é considerada correta, o que acaba bloqueando suas mentes para a
realidade. Por fim, há os ídolos do teatro, que são consideradas as crenças, e
é onde entra a Igreja, pois trata-se de uma instituição que impõe seus dogmas
aos fiéis e estes os aceitam como única verdade. Nota-se que ainda hoje, as
pessoas tendem a acreditar nos dogmas, mas estes estão bem mais reduzidos em
comparação com o início da Idade Moderna, já que a ciência, mesmo sob ameaça,
pode provar que muitas daquelas “verdades” vendidas ao público eram invenções
da própria instituição para que não perdessem seus fiéis, impondo-lhes o temor.
Portanto, podemos perceber que Bacon já compreendia
as quatro ideias que bloqueavam a mente da sociedade a ponto de não conseguirem
pensar além de sua visão de mundo, e a leitura que fazemos hoje é de que os
indivíduos ainda não superaram esses ídolos completamente, pois, além de
vivermos em uma sociedade muito distinta culturalmente, ela está em constante
mudança, devendo-se ter certa paciência para se chegar em uma sociedade de
mentes abertas para outras opiniões e ideias, que aceita o diferente.
ANA CAROLINA COSTA MONTEIRO DE BARROS - DIREITO 1º ANO - NOTURNO
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