A produção de conhecimento no período que antecedeu a modernidade era realizada por aristocratas ociosos, os quais tinham como principal objetivo a ampliação de suas capacidades intelectuais, ou seja, procuravam saber por saber. Assim, os estudos científicos e filosóficos tinham pouca funcionalidade na vida social já que abordavam assuntos com pouca conexão com o real, configurando-se como mero exercício da mente. Ademais, as teorias e conclusões a que se chegou neste período não tinham fundamentação em bases sólidas, não eram produzidas por meio de uma organização metódica e assim, caracterizavam-se como constatações dogmáticas.
No estado moderno, no entanto, torna-se imprescindível a alteração do conceito de “ciência” estabelecido até então. Com o surgimento da classe burguesa, a suposta possibilidade de ascensão social e um novo ideal de felicidade instaurado na população, o homem busca funcionalidade a todo custo. A ciência tradicional, hermética e dogmática, é substituída pelo princípio da dúvida, como estabelece René Descartes em sua obra “O Discurso do Método”, onde define sua existência como a primeira verdade absoluta, devido a sua capacidade de pensar, duvidar. A partir de então, a produção de conhecimento deve obedecer a uma metodologia, deve objetivar aplicação real e principalmente, deve otimizar o domínio do homem sobre a natureza. No campo das ciências sociais e jurídicas, ocorre uma instrumentalização do direito, anteriormente utilizado para estabelecer regras morais, agora regula a ordem social, tornando os comportamentos expectáveis.
Nesse contexto, o filosofo Francis Bacon sugere necessária a “cura da mente humana”, libertando a humanidade de falsas percepções, as quais ele denomina “ídolos”. Sob sua perspectiva, desenvolvida séculos atrás, ao libertar-se de seus ídolos, a humanidade seria menos vulnerável à manipulação. Esse objetivo, contudo, mostra-se quase inalcançável ainda hoje, demonstrando como os estudos de Bacon se aplicam à atualidade. Por maior que seja a malha de informações a que se tem acesso hodiernamente, a manipulação de massas é ainda uma mazela recorrente na sociedade. A razão genuína, livre dos ídolos, torna-se quase inalcançável uma vez que o homem é muitas vezes influenciado por suas paixões, sua sociedade e sua cultura, impossibilitando um claro entendimento da realidade.
Em vista do exposto, conclui-se que a razão que move a modernidade visa a construção de um conhecimento funcional, com aplicação prática na sociedade e livre de falsas impressões. Todavia, na prática, o ser humano mostra-se parcialmente guiado por suas paixões e crenças, o que caracteriza um grande obstáculo para o exercício da racionalidade.
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