Com as Grandes Revoluções Burguesas
do século XVIII, que combateram a irracional sociedade feudal e impuseram o
modo de vida de uma nova classe social em ascensão, cada vez mais a sociedade
tem se mostrado materialista e racional. René Descartes, pensador do século XVII,
conhecido por sua desilusão com a contemplativa Filosofia Clássica e por defender
que todo o conhecimento provém unicamente da razão - desprezando assim os
sentidos na construção do saber - foi um dos intelectuais que influenciaram a
concepção desse novo mundo tão limitado e paradoxal por essência, haja vista
que é composto por indivíduos que são complexos e não inteiramente racionais.
Essa organização social que
fora construída há 2 séculos atrás é uma sociedade onde as relações produtivas
e sociais desprezam a pluralidade dos homens, fazendo com que os indivíduos tenham
que vencer a si mesmos em prol da hiper-racionalidade (ou “Vontade do Mundo”
como denomina Descartes) que não lhe é natural. Logo, é uma organização autoritária,
alienante e que impede a expressão individual.
Deve considerar-se que esse
desprendimento da própria humanidade é uma tarefa árdua e que envolve muito
estudo, reflexão e por vezes até fuga da realidade como o próprio filósofo discursa
em sua obra, fatores esses que evidentemente não fazem e nunca fizeram parte da
realidade de toda a coletividade que mal consegue suprir suas necessidades
primitivas. O pensador acredita que não existem pessoas mais racionais que outras,
mas que as pessoas apenas guiam seus pensamentos por caminhos diferentes;
entretanto nos dias de hoje, exigir que a classe trabalhadora, por exemplo, que
vende sua força de trabalho diariamente e é vítima dos mais diversos tipos de exploração,
recuse o conforto que a fé, o misticismo e os sentidos provêm é no mínimo
injusto. Um filósofo que vive do ócio e um trabalhador não possuem a mesma
possibilidade de aderir ao racionalismo extremista cartesiano.
Fica claro que “Discurso do
Método” e sua recusa da capacidade de aprendizado de matérias humanas como a poesia
e de tudo o que é provável ou subjetivo é ainda muito presente na atualidade,
pois suporta sociologicamente essa sociedade racionalista que subjuga tudo o
que há de mais humano, a fim de manter a expressão individual adormecida.
Amanda Verrone - Direito Noturno
Amanda Verrone - Direito Noturno
Nenhum comentário:
Postar um comentário