Guimarães Rosa, em sua obra “O espelho”, dizia perseguir uma
“realidade experimental, não uma hipótese imaginária”. René Descartes, além de
viver séculos antes de Rosa, não compartilhava sua percepção sensorial no que
se trata da análise dos fatos. O francês, ao contrário do brasileiro, que
realizava viagens profundas e emocionais pela alma à procura do autoconhecimento,
promovia o pensamento racional, baseado no bom senso, para chegar à verdade –
busca que ele considerava ser o propósito de sua existência.
O filósofo claramente discordaria do método utilizado pelo autor
mineiro, que consistia no estímulo ao espiritualismo, à mágica e ao pensamento
subjetivo, pois considerava tais aspectos excessivamente frágeis para sustentar
algo de sólido. Descartes realizava suas experiências partindo do pressuposto
de que nada está completamente em nosso poder, tendo como exceção apenas os
nossos pensamentos. Em contrapartida, para Rosa, a afirmação do filósofo “penso,
logo existo” seria desprovida de complexidade, se considerarmos o misticismo
incluído em suas obras.
Apesar da nítida divergência entre suas crenças, é possível
notar a intersecção de suas filosofias de vida. Para ambos, a existência está
não somente ligada à racionalidade – no caso de Descartes – ou à
espiritualidade – no caso de Rosa –, mas, acima de tudo, consiste na essência
do ser, sendo desnecessária qualquer coisa material.
O também matemático e físico francês afirma: “quando não está em nosso poder
distinguir as opiniões mais verdadeiras, devemos seguir as mais prováveis”. A
pergunta que resta é: seria o pensamento racional quase cético de Descartes ou
o mítico quase fantasioso de Rosa o mais provável?
Nenhum comentário:
Postar um comentário