O contexto histórico em que surgiu o Positivismo, em meio às Revoluções Liberais e à agitação social da segunda metade do século XIX, auxilia na compreensão de sua essência, associada à necessidade de compreender as transformações da época. Auguste Comte consolida o positivismo como investigação científica no âmbito dos sentidos, do perceptível, buscando as "leis lógicas" que regem os fenômenos e passando sucessivamente dos estados teológico e metafísico ao positivo, sendo este o máximo e certo desenvolvimento humano, opondo-se à religião, aos mitos e superstições.
Segundo Comte, o primeiro objetivo da Filosofia Positiva é fundar a "física social", através do amadurecimento positivo das demais ciências, constituindo a única base sólida da reorganização social e levando à correção da anarquia intelectual, que seria um retrocesso da sociedade. Na concepção do pensador francês, a ordem é condição necessária para se atingir o progresso, podendo-se observar que o lema da nossa bandeira, ("Ordem e Progresso") por exemplo, é evidentemente de inspiração positivista. Não podendo haver progresso em meio à confusão, a sociologia é criada para solucionar os problemas ou patologias do "corpo social", restituindo a sincronia universal e apresentando-se como um elemento de profilaxia.
De maneira geral, o autor propõe uma ciência da sociedade, na qual o bem comum deve sobrepor-se ao individualismo e às ambições pessoais, e para desenvolver essa ideia, ele estabelece que cada indivíduo tem seu lugar e sua função na sociedade, devendo restringir-se a desempenhá-la. Está inclusa aí a ideia de solidariedade, segundo a qual, no pensamento comtiano, cada um deve resignar-se ao seu lugar em benefício do todo. Vale fazer uma associação biológica, atribuindo a cada órgão do corpo humano sua devida função, cada um com a sua importância e particularidade. Por mais lógica que essa ideia possa parecer, se a aceitarmos sem empreender uma análise mais profunda, não fica o conceito de progresso um tanto quanto limitado? Ao que parece, na filosofia positiva, o operário permanece na sua condição e não existe qualquer mobilidade social, o que não exatamente corresponde à ideia que a maioria das pessoas tem de progresso nos dias de hoje. Ainda seguindo a linha de raciocínio de Comte, a filosofia positiva substituiria a discussão e garantia dos direitos pela exaltação dos deveres, reforçando essa aceitação dos lugares e papéis sociais de maneira a impedir reivindicações ou lutas sociais de qualquer espécie. Podemos dizer que essa ideia está de acordo com o pensamento atual? Basta verificarmos, por exemplo, este simples fato: hoje (1° de maio) comemoramos o Dia do Trabalho, história que remonta ao ano de 1886 na cidade de Chicago, onde milhares de trabalhadores foram às ruas reivindicar melhores condições de trabalho, entre elas, a redução da jornada diária de treze para oito horas. Neste mesmo dia ocorreu nos Estados Unidos uma grande greve geral dos trabalhadores. Foram episódios marcantes, tanto que permanecem sendo lembrados até hoje. Não podemos, portanto, ignorar essa estagnação que a filosofia positiva parece propor, mesmo que, de maneira inovadora para a época, tenha pressuposto a criação de um planejamento social que trouxesse o bem-estar. Apesar de haver coerência na ideia de Comte, de felicidade associada ao bem público, não há como deixar de considerar o direito de cada um de alcançar objetivos maiores e buscar ascensão social. Afinal, é assim que se dá o verdadeiro progresso.
Portanto, constata-se que a filosofia positiva de Auguste Comte apresenta diversos aspectos suscetíveis a discussões e análises, comportando vários pontos de vista. Entretanto, sua relevância para o pensamento sociológico é inegável, e por mais que algumas de suas ideias estejam hoje ultrapassadas, outras ainda são muito claras, como a necessidade de reorganizar a educação combinando as várias ciências, numa visão que privilegie o todo. Certamente, seu pensamento merece ser refletido por ele ter procurado dar ordem ao mundo e demonstrar a importância da ciência social.
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