Sendo radical no seu posicionamento quanto à validade de certas concepções intelectuais - como explicita claramente na sua Lei dos Três Estados -, Comte toma as explicações factuais feitas a partir de entidades sobrenaturais e da metafísica como meras fases, exaltando o terceiro estado finalmente alcançado pela humanidade - o estado positivo - como o apogeu desse processo. Ele prega o relativismo e o método da observação, experimentação e comparação dos fatos; uma análise dos fenômenos sociais como se eles fossem quaisquer outros fenômenos que também seguem leis abstratas gerais e constantes, sendo elas do menor número possível. Ele se alicerçava nos pensamentos de Bacon e Descartes bem como no paradigma newtoniano da gravidade.
Ele estabelece a Sociologia como a ciência social, responsável por identificar sociedades doentes, seus aspectos problemáticos e as soluções práticas para os mesmos. Vislumbra o reconhecimento das leis gerais anterior às mais específicas, uma reforma educacional visando unificar as ciências como uma só, combinando-as entre si e a utilização da Filosofia Positiva como apoio para a organização das sociedades modernas. Ele reconhece os conceitos de teoria, ciência e técnica, configurando a ciência não apenas no âmbito mais prático de concepção de técnicas, mas também de conhecimento das leis dos fenômenos sociais, com a intenção de "ver para prever" as relações atos-consequências, por exemplo.
Comte critica a influência negativa da Igreja e da filosofia metafísica sobre as instituições do período que vivenciou e também despreza a mentalidade que insistia em especificar demais as ciências, privilegiando seus detalhes isolados sem atentar ao todo, o que, para ele, era inútil e contrário ao seu princípio de unidade científica.
Mas o aspecto mais marcante de toda a filosofia positiva é o ponto em que Comte trata das funções distintas a serem exercidas pelos indivíduos como fator essencial para o funcionamento adequado da sociedade. Para ele, é preciso que cada um se posicione como um membro do corpo social, dispondo-se a uma tarefa específica como forma de solidariedade, já que é devido haverem pessoas para todas as funções a serem desempenhadas. Assim, tanto o operário que trabalha na construção como o engenheiro que a projetou têm sua importância na sociedade como um todo e devem aceitar essa realidade em prol do bem coletivo. Dessa forma, ele julga ser possível instaurar-se a verdadeira ordem e consequentemente alcançar-se o progresso da sociedade, já que todos trabalham com o objetivo comum, realizando tarefas diferentes mas igualmente necessárias. Comte visualizava a felicidade como sendo característica do bem público, associada a esse princípio de primazia da sociedade como um conjunto ante à individualidade.
Na teoria, aparenta mesmo ser uma maneira consciente e sensata de se estabelecer uma organização social, mas, ela deve acontecer de fato, de uma forma eficaz, de modo a proporcionar boas condições de vida para os diversos grupos. Já que, na realidade, não é assim que acontece; isto é, há diferentes tratamentos conferidos aos indivíduos que se encaixam em cada grupo, sendo uns mais privilegiados que outros, que, por sua vez, submetem-se - na verdade, são submetidos - a fome, miséria, desrespeito, falta de instrução, difícil acesso saúde etc. Essa ordem muda seu sentido de "organização", passando a ser um "mandamento" que impõe realidades distintas para as pessoas. E o progresso não chega a mudar, ele se perde de vez, na medida em que se restringe a pequenas parcelas da sociedade.
Muito bom artigo,mas o final parece querer responsabilizar a sociologia e o estado positivo pelas mazelas sociais que vemos em nossos dias:Não se pode culpar Auguste comte ou o Positivismo pelas coisas ruins que acontecem na sociedade,pois as suas ideias nunca foram adotadas por completo em nenhuma sociedade,sendo geralmente culpa dos governantes e não das idéias de Comte as desgraças que vemos.
ResponderExcluir