Ainda no século XVI, Rene Descartes revolucionou o saber científico ao identificar uma problemática recorrente entre os pesquisadores da época: a falta de sistematização na organização e apresentação das ideias, oque dificultava a síntese das ideias que poderiam ser utilizadas para futuras pesquisas. Em busca de solucionar tal barreira, ele deu origem ao método científico inicialmente em sua obra “Discurso sobre o método”, na qual entende o conhecimento como objeto da racionalidade. Tal ideia complementa a conclusão de Francis Bacon, empirista que anos antes em sua produção “novum organum” defende a ideia de que a ciência poderia ser muito aprimorada e evidencia suas limitações da época.
Separada por séculos dos filósofos europeus, a escritora portuguesa Grada Kilomba, faz uma interpretação sociológica em seu livro “Memórias de plantação” no qual dedica o segundo capítulo para demonstrar seus estudos sobre os efeitos do racismo estrutural, principalmente no meio científico. Com base em constatações recorrentes, Kilomba relata que como acadêmica é comum ouvir que seu trabalho acerca do racismo é interessante, porém não é científico. Admitem que acadêmicos negros que tratam sobre o racismo são muito imparciais e colocam muita pessoalidade e sentimentalismo. Contudo, isso ocorre porque ao estudar um fenômeno social deve-se ter por base que ele atinge determinado lugar na sociedade, portanto métodos científicos como aqueles estabelecidos pelos desenvolvedores da ciência moderna não podem ser aplicados.
Em congruência com Kilomba, o sociólogo americano Mills C. Wright em “A imaginação sociológica” discorre no
primeiro capítulo sobre a impossibilidade das ciências sociais estarem apartadas da realidade vivida. Ou seja,
deve-se analisar um problema social levando em consideração que a parcela que enfrenta essa questão pertence
a um determinado espaço social, seccionado em interseções de gênero, classe e raça.
Paralelamente a Bacon, essas convergências explicitam a dificuldade das barreiras científicas, porém no campo das ciências sociais, diferentemente das preocupações do início da ciência moderna, essa, focada nas forças da natureza. Assim, deve-se apreender que o estudo da sociologia exige uma flexibilidade da metodologia que não ocorre em outros campos de conhecimento, pois diferente deles, o estudo das sociedades necessita abarcar diferentes visões de mundo e desse modo defender melhorias destinadas à diferentes esferas sociais geralmente excluídas, marginalizadas e/ou com pouca visibilidade, como Kilomba faz ao defender o ponto de vista de mulheres negras e buscando a descolonização do conhecimento.
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