A história não aceita coincidências, muito menos explicações superficiais das relações sociais que proveram certo sentido nas tomadas de decisões do mundo. A tese hegeliana de que as ações sociais são consequências do idealismo, ou seja, de que a razão determina a realidade objetiva, cai no esquecimento quando a materialidade é observada como fator principal das condutas comunitárias vigentes. Ora, o colonialismo racial não foi fruto apenas de um imaginário coletivo que resultou no esforço de invadir, roubar e sequestrar pessoas na África ao bel prazer dos colonizadores, mas sim porque a realidade material possibilitou que os mesmos poderiam enriquecer e chegar ao topo da pirâmide do poder. Desta forma, observando a realidade como proposta, cria-se o imaginário do colonialismo caracterizado como racista, patriarcal e aristocrático.
Partindo deste pressuposto, Wright Mills
enfatiza a realidade social por meio do afastamento do objeto a ser analisado.
Logo, com uma visão mais ampla partindo do particular para o geral, entende-se
os conceitos rotineiros não como efeitos banais do corpo social, mas como um arranjo
de comunicação que se torna complexo com o aprofundamento das análises dos
rituais preestabelecidos. Assim, nota-se uma correlação com método indutivo de
Francis Bacon, já que em sua obra, Novo Organum, a crítica aos axiomas são
realçados ao longo do discurso, pois nenhuma verdade pode ser considerada
concreta ao ponto de se transformar em base para o entendimento posterior.
Desta forma, voltando-se ao exemplo citado anteriormente, a escravização no
continente africano não pode ser entendida como mera aquisição moral já
estabelecida pelo europeu antes da prática em si, mas como ferramenta capaz de
transformação deste povo em potência político-econômica que, após realizada,
sintetiza no imaginário coletivo como algo normal e natural.
Portanto, a desnaturalização das relações
sociais é de suma importância para a compreensão da formação da realidade como
ela se apresenta. Observa-se, como exemplo, a obra “Memórias da plantação” da
autora Grada Kilomba, a qual retrata em seu texto a rotina enfrentada por
pessoas negras através do viés do racismo estrutural. Para Grada, a objetificação
do corpo da mulher preta, juntamento com o lugar que é estabelecido para a
ocupação deste mesmo corpo, são formas de retratar a violência encarada pela
comunidade negra e feminina ao longo da história, já que, partindo da
imaginação sociológica, tal violência é expressada como produto do colonialismo
europeu e pelo conseguinte ato de escravização, os quais criaram lugares para
que as mulheres negras ficassem e vivessem de acordo com a norma padrão. No
entanto, a desnaturalização deste procedimento sintetiza o questionamento do
porquê isto ocorre, causando uma revolução no modo de pensar e agir para com o
processo preconceituoso que rege as relações sociais atuais.
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