Comparando os pensamentos de Charles Wright Mills e o fenômeno do trabalho escravo contemporâneo, podemos lançar luz sobre questões sociais relevantes. Mills, um sociólogo renomado, enfatizou a importância da "imaginação sociológica", que é a capacidade de conectar a experiência pessoal com estruturas sociais mais amplas. Para ele “[...] tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Sua visão, sua capacidade, estão limitados pelo cenário próximo: o emprego, a família, os vizinhos; em outros ambientes movimentam-se como estranhos, e permanecem espectadores” (MILLS, 1965).
Aplicando essa perspectiva ao trabalho escravo contemporâneo, podemos entender como as relações de poder, desigualdades econômicas e falhas institucionais perpetuam essa prática. A exemplo disso, pode-se citar o caso atual de uma juíza que aceitou a denúncia do Ministério Público Federal contra uma mãe e um filho que eram patrões da dona Maria de Moura. A família virou réu na Justiça e é acusada de trabalho análogo à escravidão, coação e apropriação de cartão magnético de idoso. Segundo a matéria veiculada pelo Fantástico, a Justiça informou que as visitas de dona Maria à própria família eram controladas e o celular ficava com o patrão. Eles apontam também que, para a promotoria, o caso representa um recorde negativo no Brasil: "é o mais longevo, em que a pessoa permaneceu mais tempo nessa situação, 72 anos", e assentam que o Ministério Público do Trabalho resgatou a vítima, que atualmente tem 87 anos, a partir de uma denúncia anônima.
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
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