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segunda-feira, 18 de março de 2024

As Órbitas Restritas do Conhecimento e seus Efeitos

     Ao longo do processo de formação social do Brasil e do mundo, o preconceito e marginalização de raças, costumes e movimentos causou o afastamento dentro da sociedade e suas realizações. Segundo diversos pensadores, o conhecimento é um processo gradual que envolve diversas perspectivas e realidades. Portanto, a distância social crescente entre as pessoas e suas ideias promoveu um período de déficit intelectual e humano, causando a decadência da empatia.

    De acordo com Wright Mills, a consciência direta dos homens está intrinsecamente ligada a suas vivências pessoais, gerando a limitação das perspectivas dentro de seus âmbitos particulares. Sob essa perspectiva, o mundo presenciou ao longo de séculos os efeitos da distância social entre as populações. Seja pelas guerras contra os bárbaros em Roma, pela escravidão negra na época moderna, pelo holocausto na Alemanha nazista, e diversos outros conflitos sociais durante os séculos XX e XXI. Verifica-se que a ausência de comunicação e empatia com o desconhecido gera violência e caos além, obviamente, do problema do desenvolvimento humano.

    A falta de empatia e compreensão do oposto acaba por limitar o ser humano em suas próprias noções, isolando-o do desenvolvimento intelectual possível ao indivíduo. Nos diversos relatos de Grada Kilombo, em “Memórias de plantação”, o contato afetado entre as raças e culturas promoveu o isolamento o inerte dentro da sociedade – visto na obra como o racismo estrutural. A continuidade do preconceito na contemporaneidade dificulta a progressão da ciência na sociedade, afinal, a perspectiva limitada dos acadêmicos – de maioria masculina, branca, cis gênero e privilegiada – não permite a efetiva observação e construção de conhecimentos necessários à realidade social da atualidade.

    Torna-se necessário analisar não somente o âmbito da elite acadêmica e sua informação limitada, mas também a perspectiva do povo e dos marginalizados para a construção do conhecimento. Haja vista que a atual conjectura da sociedade ainda privilegia a camada conservadora e tradicionalista, os verdadeiros problemas e crises sociais – que efetivamente demandam a atenção acadêmica para suas soluções – estão sendo ignorados graças aos preconceitos e concepções antiquadas da vida popular.

    Isto é, na sociedade brasileira da modernidade: A crise carcerária com a ideia de “bandido bom é bandido morto”; A homofobia entendida como “falta de porrada”; O negacionismo científico tido por “é só uma gripezinha”; A banalização da morte popular vista em “não sou coveiro”; A negação do indivíduo em relação a sua própria cultura como na crise dos povos originários ignorados pelo Estado; E o medo da inclusão social de “corpos não pertencentes àquele espaço” – como explicado por Grada Kilombo – visto na rejeição de propostas de cunho popular tidas como “de esquerda”.

    Portanto, o conhecimento já passa por uma situação complexa e afetada pela construção social do mundo, mas a continuidade dessa situação está limitando as pessoas em suas órbitas pessoais restritas. Afinal, a falta de empatia cria uma perspectiva fechada de pensamentos e ideias, não há mais preocupação em construir algo interessante ao outro, tudo é vinculado ao próprio indivíduo e suas concepções limitadas, prejudicando o conhecimento e suas contribuições ao mundo.


Matheus Faria | 1º Ano Direito Matutino

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