O ex-aluno da UNIFRAN Matheus G.
Braga incentivou que os alunos calouros do curso de medicina entoassem um hino
com repudiáveis expressões misóginas, pornográficas e com apologia à cultura do
estupro: “prometo usar, manipular e abusar de todas as dentistas e facefianas
que tiver oportunidade, sem nunca ligar para o dia seguinte (..) juro
solenemente nunca recusar a uma tentativa de coito de veterano”.
Esse cenário de teórica descontração
revela importantes conceitos definidos pelo sociólogo Pierre Bourdieu como
Habitus e Poder Simbólico. O primeiro corresponde à matriz cultural que
predispõe os indivíduos às certas escolhas e determinados comportamentos, ou
seja, Mateus Braga e muitos outros estudantes presentes, ao decorrer de sua
vida, adquiriram conhecimentos que predispõem uma sociedade patriarcal,
machista e acostumados a reificar o corpo das mulheres, por conta dessa bagagem
adquirida e em meio à luta simbólica, esses indivíduos impõe sua visão de
mundo, ideologias e heranças culturais como modo de Poder simbólico. Vale ainda
lembrar que tanto o Habitus quanto o poder simbólico estão intrinsicamente ligados
e se retroalimentam constantemente.
Além disso, as “brincadeiras” do
trote universitário foram gravadas e compartilhadas na internet, o que levou ao
Ministério Público de São Paulo a ajuizar ação civil pública contra o ex-aluno
requerido por dano moral coletivo. Todavia, a Juíza Adriana G. M. Bonemer
julgou improcedente o requerimento pois, mesmo sendo uma mulher, avaliou que o
ocorrido dirigido a um grupo específico de pessoas não representou uma agressão
ofensiva a todos indivíduos do sexo feminino, consequentemente, não houve dano
moral a coletividade de mulheres.
Em justificativa a essa sentença,
a juíza se apropria dos Espaços Possíveis, em outras palavras, argumentos
históricos, sociológicos, doutrinais e literários para defender seu poder
simbólico e habitus de vida de que houve uma subversão do movimento feminista e
que se assemelham a visão de mundo de Matheus Braga. Portanto, o veredicto
final representa justamente o formalismo racional que contribui para
perpetuação do status quo benéfica à classe dominante. Uma decisão relativa e
carregada de raízes históricas e sociais revestida de falsa racionalização e
universalização.
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