Quantas
vezes já nos perguntamos “O que a leva alguém a agir dessa forma? ”, mesmo
havendo oportunidades para que ela abra sua mente para uma nova visão, isso não
acontece. Pierre Bourdieu explica que o habitus, conhecimento adquirido na
classe social, predispõe os indivíduos a certas escolhas, ou seja, as atitudes
que muitas vezes consideramos absurdas, são normais para o outro, pois ao
decorrer da sua vida ele conviveu com isso, de tal modo que elas se enraizaram
em seu pensamento.
Para
exemplificar o habitus, usarei a Ação Civil Pública de Matheus Gabriel Braia,
que no trote da faculdade que estuda, a UNIFRAN, cometeu apologia ao estupro ao
fazer os calouros expressarem frases que induzissem as pessoas a praticarem
atos sexuais sem o consentimento da vítima. As frases mais absurdas desse
discurso são: “prometo usar, manipular e abusar de todas as dentistas e
facefianas que tiver oportunidade” e “Juro solenemente nunca recusar a uma
tentativa de coito de veterano”. Por pior que seja, não me delongarei debatendo
sobre as atitudes de Matheus, mas sim da juíza do caso, Adriana Gatto Martins
Bonemer, que não procedeu a ação.
Adriana
julgou o caso, basicamente, repudiando o feminismo e pouco se pautou sobre o
discurso proferido no trote estudantil, ela diminuiu a luta das mulheres, dando
a entender que o feminismo deveria lutar apenas pela igualdade de direitos
civis, e que quando passou a protestar pela liberdade sexual, o movimento
começou a se subverter. Desse modo, fica claro que Bonemer julgou o caso
baseando-se no seu habitus, que claramente dispõe da oposição ao feminismo e
que normaliza o discurso que faz apologia ao estupro.
A juíza considerou que não era possível
presumir que o discurso foi dirigido a todas as mulheres, pois o discurso era
destinado para as pessoas presentes no trote, portanto, não havia como culpar
Matheus por danos morais. Nesse sentido, podemos assimilar essa situação com a
racionalização do direito proposta por Bourdieu, uma vez que Adriana julgou o
caso pelo o que ele é de fato, e não pelo o que deve ser.
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