Para o sociólogo Pierre Bourdieu as ações e os pensamentos dos indivíduos são frutos de, principalmente, o modo como foram criados. A visão de mundo de cada um vai variar das experiências que tiveram durante seu crescimento, e o tipo de experiências que alguém terá é fortemente influenciada pela sua classe, gênero, cor e nacionalidade. Um menino e uma menina vão ser tratados de forma diferente devido ao seu gênero, as chances são que o menino crescerá com as pessoas dizendo que ele tem que ser forte e pode conseguir o que ele quiser, enquanto a menina crescerá ouvindo que deve ser bonita e delicada. Portanto, ao crescerem, o menino terá mais predisposição a tentar assumir a liderança nos espaços, ou a se sentir no direito de fazer o que bem entender, enquanto a menina sentirá que seu papel na sociedade só será cumprido se atingir os padrões de beleza a ela impostos e que tem o dever de ser submissa. Essa é, de forma resumida e simplificada, o conceito de Habitus para o sociólogo
Ao estabelecermos o conceito dessa teoria fica mais fácil de compreender a sentença absurda da Juíza Adriana Gatto Martins Bonemer em face ao réu Matheus Gabriel Braia. Matheus, estudante de medicina na Unifran, fez com que os calouros e calouras repetissem uma espécie de hino que continham frases machistas e que faziam apologia ao estupro. No entanto, em seu julgado, a Juíza faz uma argumentação em defesa do réu e que crucifica o feminismo como um movimento que distorce a moral e os bons costumes. Justamente por terem sido socializados em uma sociedade machista e patriarcal, tanto Adriana quanto Matheus carregam em si esse preconceito, por mais que a primeira seja mulher e não se beneficie de forma alguma desse sistema. Ela foi criada para acreditar que coisas como o feminismo são baboseiras sem fundamento, e ele foi criado para achar que é o centro do mundo e que, por isso, as mulheres devem a ele sua submissão.
Essa influência desproporcional dos homens na sociedade os deixam passar impunes dos mais diversos atos criminosos, o que reitera em suas mentes que eles estão certos e no direito de agirem como agem. Essa habilidade vem do acúmulo desse gênero de capital simbólico, o que os leva a possuírem um grande poder simbólico, ambos conceitos criados por Bourdieu. Possuir muito capital simbólico significa que um indivíduo possui privilégios na sociedade perante os outros, privilégios como, por exemplo, se safarem de crimes, principalmente quando o alvo de tais crimes são minorias, como, por exemplo, o caso de Matheus Gabriel Braia.
Isabelle Carrijo Mouammar - Matutino
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