A revolução industrial,
ocorrida em meados do século XIX, trouxe consigo o capitalismo industrial, o
qual explorava os trabalhadores agora não mais no campo, mas nos galpões das
fábricas. Uma vez que era passível de inúmeras críticas, não demorou a
aparecerem críticos a esse sistema, a começar pelo utópico Conde de Saint Simon,
Hegel e posteriormente Friedrich Engels e Karl Marx. Estes últimos teorizaram
que a sociedade seria regida pelo materialismo dialético.
Tal conceito, que é
explicado de forma abstrata como um processo contínuo entre contradições, a
tese e a antítese, a fim de se chegar à síntese, pode ser visto de uma forma
concreta no primeiro capítulo da obra “A corrosão do caráter”, de Richard
Sennet. Na obra, é mostrado primeiramente um cenário da mais completa
estabilidade e morbidez no âmbito industrial, cada trabalhador exercia a mesma
função, na mesma empresa, até se aposentar, que foi vivido por Enrico, mas que procedeu
a um período de intensa instabilidade com a quebra da bolsa de 1922. Uma geração
mais tarde, seu filho vive algo completamente diferente, tudo é novamente instável
e passageiro, os indivíduos passam por diversas funções e empresas ao longo de
suas vidas, o que os economistas chamam de economia de curto prazo.
Essa constante
transformação do modo de organização da sociedade é o processo dialético visto
de forma concreta, tal qual defendiam os teóricos alemães a cerca de como tal
estudo deveria ser feito. Dessa forma, as tensões existem dentro de cada período
vivido pelos personagens são as contradições entre as classes sociais que deram
origem a cada ordem social do meio de produção do período seguinte a ser vivido
pela sociedade, que, por sua vez, é a síntese do processo do qual fazem parte.
Mesmo passado mais de
um século da concepção da teoria marxista, a exploração e a alienação do
trabalhador ainda podem ser vistas em nossa sociedade atual, todavia, em um método
de produção diferente do que era utilizado na época. Hoje, tem-se uma visão de
que vivemos uma Era do trabalho mais livre das amarras dos horários, das
paredes claustrofóbicas dos escritórios e dos chefes, uma vez que muitos trabalhadores,
chamados de autônomos, são seus próprios “chefes”. Contudo, o trabalhador é um
verdadeiro refém de seu trabalho, ligado a ele 24h por dia, pois com os
adventos da tecnologia tornou-se impossível desligar-se complemente do trabalho,
e cada vez mais este toma o controle de suas vidas e de suas residências,
deixando o indivíduo sem tempo para o lazer, a família, os amigos e, com isso,
torna-se alienado do mundo.
Com tudo isso, chegamos
à conclusão de que tudo é fruto do processo histórico da dialética, que com
suas tensões entre as contradições das classes sociais, construiu a história da
humanidade. Assim, a dialética possui uma função materna em todas as sociedades,
isto é, foi ela quem nos pariu, nos deu origem, uma vez que, de acordo com a
teoria marxista, tudo que é concreto é fruto do processo dialético e é,
portanto, a sua síntese.
Júlia Veríssimo Barbosa - Direito (noturno)
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