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segunda-feira, 27 de maio de 2019

A mãe Dialética e sua atemporalidade

  A revolução industrial, ocorrida em meados do século XIX, trouxe consigo o capitalismo industrial, o qual explorava os trabalhadores agora não mais no campo, mas nos galpões das fábricas. Uma vez que era passível de inúmeras críticas, não demorou a aparecerem críticos a esse sistema, a começar pelo utópico Conde de Saint Simon, Hegel e posteriormente Friedrich Engels e Karl Marx. Estes últimos teorizaram que a sociedade seria regida pelo materialismo dialético.

  Tal conceito, que é explicado de forma abstrata como um processo contínuo entre contradições, a tese e a antítese, a fim de se chegar à síntese, pode ser visto de uma forma concreta no primeiro capítulo da obra “A corrosão do caráter”, de Richard Sennet. Na obra, é mostrado primeiramente um cenário da mais completa estabilidade e morbidez no âmbito industrial, cada trabalhador exercia a mesma função, na mesma empresa, até se aposentar, que foi vivido por Enrico, mas que procedeu a um período de intensa instabilidade com a quebra da bolsa de 1922. Uma geração mais tarde, seu filho vive algo completamente diferente, tudo é novamente instável e passageiro, os indivíduos passam por diversas funções e empresas ao longo de suas vidas, o que os economistas chamam de economia de curto prazo.

  Essa constante transformação do modo de organização da sociedade é o processo dialético visto de forma concreta, tal qual defendiam os teóricos alemães a cerca de como tal estudo deveria ser feito. Dessa forma, as tensões existem dentro de cada período vivido pelos personagens são as contradições entre as classes sociais que deram origem a cada ordem social do meio de produção do período seguinte a ser vivido pela sociedade, que, por sua vez, é a síntese do processo do qual fazem parte.

  Mesmo passado mais de um século da concepção da teoria marxista, a exploração e a alienação do trabalhador ainda podem ser vistas em nossa sociedade atual, todavia, em um método de produção diferente do que era utilizado na época. Hoje, tem-se uma visão de que vivemos uma Era do trabalho mais livre das amarras dos horários, das paredes claustrofóbicas dos escritórios e dos chefes, uma vez que muitos trabalhadores, chamados de autônomos, são seus próprios “chefes”. Contudo, o trabalhador é um verdadeiro refém de seu trabalho, ligado a ele 24h por dia, pois com os adventos da tecnologia tornou-se impossível desligar-se complemente do trabalho, e cada vez mais este toma o controle de suas vidas e de suas residências, deixando o indivíduo sem tempo para o lazer, a família, os amigos e, com isso, torna-se alienado do mundo.

  Com tudo isso, chegamos à conclusão de que tudo é fruto do processo histórico da dialética, que com suas tensões entre as contradições das classes sociais, construiu a história da humanidade. Assim, a dialética possui uma função materna em todas as sociedades, isto é, foi ela quem nos pariu, nos deu origem, uma vez que, de acordo com a teoria marxista, tudo que é concreto é fruto do processo dialético e é, portanto, a sua síntese.

Júlia Veríssimo Barbosa - Direito (noturno)

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