Para
Hegel o Estado moderno, como idealizado por ele, era o produto da mais perfeita
racionalidade, e, portanto, teria mecanismos capazes de resolver as contradições
da dialética e promover o aperfeiçoamento do sistema vigente no Estado moderno.
Um desses mecanismos seria a Justiça e o Direito moderno, que no âmbito do
capital, relação social, atuaria para diminuir os conflitos da relação
dialética do capitalista e do proletário.
A
resolução da contradição é visível, no momento em que o trabalhador explorado,
não busca o rompimento do sistema capitalista, mas sim a Justiça, concebida pelo
Estado burguês, para reparar a exploração que ele é vítima. Caso ganhe ou perca
a causa o trabalhador terá a ilusão que ele não é explorado, já que tem acessos
aos mecanismos de justiça. A crueldade do capitalismo está em transportar a
exploração do âmbito visível para o invisível. No Feudalismo o servo sabe que
está sendo explorado, no Capitalismo o proletário não consegue enxergar a
exploração.
Marx
percebeu, quando escreveu o 18 de Brumário, que o Estado moderno é produto das
relações capitalistas, assim ele tem a forma capitalista, portanto, não adianta
colocar um proletário no poder que o estado continuará sendo capitalista. Assim, só será possível cessar a exploração com o fim do estado capitalista e,
consequentemente, com o fim da justiça burguesa.
No
entanto, como o capitalismo tem por virtude esconder a exploração por meio de
seus mecanismos, é necessário que haja uma vanguarda que mostre a massa de trabalhadores
que eles são explorados e que o modo de romper com o ciclo exploratório é a
implosão do Estado. E que a justiça moderna e o direito moderno só são
mecanismo para resolver e mascarar a contradições e explorações latentes do capitalismo.
De modo que o direito e a justiça consideram que a transformação deve se dar dentro
das instituições burguesas, com as regras burguesas da maneira burguesa.
A
defesa do institucionalismo empurrou as esquerdas para o campo da situação nas
eleições de 2018, onde o candidato vencedor do pleito criticou pesadamente as
instituições e coube a esquerda defender a instituições burguesas que asseguram
a dominação da classe dominante. Friedrich Engels e Karl Kautsky, na obra Socialismo
Jurídico, criticaram pesadamente os reformistas, operadores do direito, que acreditavam
ser possível uma melhora da qualidade de vida da população através da justiça
burguesa. E é notório, que hoje já se revoga a legislação trabalhista de
Getúlio Vargas, não sendo possível uma obter uma melhora de vida dentro dos
ditames capitalista.
O
direito pode até ser operado com a intenção de melhorar a vida dos
trabalhadores. Mas no Estado capitalista o resultado será sempre mascarar a dominação
e colocar fita isolante em um sistema que, naturalmente, está quase dando curto
circuito, sempre afagando os trabalhadores quando estes estão perto de se
rebelar. Sendo assim, a esquerda não pode fazer o papel de eletricista e
bombeiro do capitalismo, a menos que queira atrair a ira das massas sedentas por
mudanças e em vias de se revoltar contra as instituições burguesas.
Ricardo da Silva Soares, Direito Noturno
Ricardo da Silva Soares, Direito Noturno
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