Por favor, todos de pé. Solenizou a moça do palco. As pessoas como, ordenado, se levantaram e aplaudiram o palestrante. O homem aproximou-se da beira do palco, agradeceu as honrarias e sentou-se em uma cadeira lá colocada para tal função. A plateia de pronto se ajustaram em suas cadeiras passando a uma posição mais ereta. O Cabeçudo da minha frente está dificultando minha vista, desgraçado. Que se disponibiliza uma melhor apreciação da oratória. Uns cruzaram as pernas. È bom isso valer a pena. Outros a postaram abertas. O que será que irei jantar depois daqui. Enquanto outros a chacoalhavam incansavelmente em sinal de ansiedade ou pressa de logo irem de lá embora. Preciso traçar minha amante saindo daqui. Na mediada da passagem do tempo, o palestrante agia nada mais diferente do modo como todos os palestrantes agem, sendo um palestrante. Tenho que melhorar essa porcaria de palestra, olha a cara desse pessoal, certeza que me estão escrotizando em suas mentes. E o corpo de pessoas lá sentadas não se diferenciava em nada de outro qualquer corpo de pessoas a ouvir um palestrante a agir como tal. Tudo até então se via normal, até que o palestrante decide modificar um pouco seu papel de simples palestrante e vê a necessidade de uma piada em determinado momento, não porque ele adorasse piada, mas a plateia não parecia nem um pouco animada com suas falas monótonas. Dito e feito, a piada ecoou pelas paredes do auditório, reverberou nos ouvidos dos indivíduos lá sentados. Um certo ouvinte passou a rir de forma descontrolada. Puta piada boa, esse cara mandou bem. O companheiro ao seu lado olhou aterrorizado. Essa piada não é politicamente correta. Assim como aos poucos se foi tomando como uma imposição a uns ouvintes, enquanto outros riam apenas, e outros reclamavam na plateia. Apesar de ser uma risada, cada qual tinha sua individualidade, uns riam mais alto, outros mais baixo, uns mais molhadas outros mais secas e rigorosas. Outros já nem riam, estavam entediados, uns usavam seus smartphones. Oi meu amor, já buscou nossa filha na escola. E o som que tais risadas faziam produzia uma risada maior, com vida própria e com suas características típicas, não sendo só uma somatória de sons, mas diferenciando-se com as mais variadas sobreposições de risadas. E tal risada maior influenciava as risadas menores e vice e versa, mas nem todos riam. Tal momento fora momentâneo, pois logo uns pararam. Não foi tão boa assim. Uns continuavam. HÁ... HÁ... HÁ... Ela foi se esgotando, em tempos diferenciados.
Túlio B. F. Santos
Turma XXXI - diurno
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