Com a inserção da maquinaria na indústria moderna ocorreu uma emancipação dos limites orgânicos do homem, no momento em que se utilizou a máquina criou-se uma “barreira orgânica que a ferramenta manual de um trabalhador não podia ultrapassar”, segundo Marx no capítulo “A Maquinaria e a Indústria Moderna” de “O Capital: crítica da economia política”. Visto que a força humana tornara-se inferior à força motriz necessária às indústrias; além de ser imperfeita, não uniforme e descontínua; torna-se supérflua a força muscular do homem adulto no exercício do trabalhador nas fábricas.
Com essa força muscular ociosa juntamente com a necessidade de empregados com membros mais flexíveis, fisicamente, surgiu a intenção de se inserir as crianças nas indústrias. Além de serem pequenas, podendo assim entrar nas máquinas para realizar sua limpeza e manutenção, estas custariam muito menos ao empregador; “Três meninas com 13 anos de idade e salário de 6 a 8 xelins por semana substituem um homem adulto com salário de 18 a 45 xelins”, como Marx afirma citando uma nota de um artigo de Londres.
Agora o trabalhador não vende somente sua própria força de trabalho, como também a de seus filhos; tornando-se um “traficante de escravos”. O pai autoriza que seu filho com 13 anos( ou menos, contanto que aparente tê-lo) entre nos maquinários da fábrica em funcionamento para limpá-los sofrendo muitas vezes mutilações; inclusive, em distritos de Londres costumavam haver leilões públicos, nos quais os pais alugavam diretamente seus filhos às fábricas de seda; uma verdadeira traficância dos pais com crianças a partir de 9 anos de idade.
Mas por qual motivo um pai ou uma mãe aceitaria que seu filho fosse empregado em tais fábricas nos séculos XVIII, XIX ? Pelos mesmos motivos que continua existindo o trabalho infantil em pleno século XXI : a necessidade fisiológica das famílias. O patriarca não obriga seu filho a trabalhar por acreditar que lhe pareça justo. A fome não atinge apenas os adultos, ou apenas o pai ( que trabalha ), atinge também seus filhos; e com a desvalorização do trabalho manual por conta do desenvolvimento das máquinas, extremamente mais produtivas e lucrativas, torna-se necessária a inserção de mais membros da família nas fábricas, tanto a esposa como também os filhos.
Hoje, observa-se milhares de crianças que continuam sendo obrigadas a trabalhar para o sustento de suas famílias; particularmente no Brasil, observa-se veemente o trabalho infantil na agricultura de cana de açúcar, de mandioca ou nas minas de carvão. Essa realidade não torna os pais dessas crianças desumanos ou aproveitadores, a necessidade de garantir o “pão de cada dia” para suas famílias é o que torna essa condição “sine qua non” para essas famílias. A produção mecanizada deveria humanizar o trabalho, e não o contrário; porém, é a desigualdade social o verdadeiro traficante de escravos; pois através da má distribuição dos maiores lucros e produtividade das fábricas escraviza não somente as crianças, como também seus pais e a sociedade como um todo.
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