A substituição da manufatura para a maquinofatura, na Revolução Industrial,
acarretou grandes modificações em toda a sociedade, novas formas de trabalho e
pensamentos surgiram. A ascensão de uma classe, a burguesia, estremeceu os
antigos pilares da Europa, em detrimento à exploração da classe operária, que
passou a ser, segundo Taylor, um “gorila domesticado". Neste contexto está
em cheque o principal e originário meio de organização do ser humano, a família, que
adquire um novo papel e que o exerce de modo semelhante até os dias
atuais.
Como o homem tornou-se periférico no processo de produção de bens nas
grandes indústrias, não era mais necessário um sujeito pensador e criativo,
apenas um ser que execute as ordens. Sendo assim, a força utilizada passou a
ser menor para realizar uma tarefa específica, abrindo as portas para as
crianças e mulheres entrarem neste mercado, afetando a antiga imagem familiar
do período, onde o homem era responsável pelo trabalho e a mulher dos afazeres
domésticos e cuidados com os filhos.
A ausência da figura materna no lar foi um fator determinante para a
marginalização dos filhos, que passaram da educação familiar para a das ruas,
sendo influenciados pelo local e momento. Casos em que as crianças eram dopadas
para as mães poderem trabalhar ou iam junto aos pais para a jornada eram frequentes. O
determinismo exercia sua influência, um jovem criado nestas condições nada podia
exigir ou esperar melhorias em sua vida, torna-se um ciclo, isso se o
adolescente ou criança não entrar no mundo do crime.
Apesar de esta situação ter seu início no século XVIII, apenas os
instrumentos utilizados para este fim mudaram, seu objetivo continua o mesmo.
Creches e empregadas domésticas tentam suprir a ausência dos pais no ambiente
familiar, o trabalho por mais que tenha adquirido inúmeros direitos, em grande
parte exerce apenas uma função mecânica, o indivíduo sofre com novos problemas,
como o trânsito e a violência, deixando o trabalhador mais tempo longe de casa.
Filhos sendo criados pelos becos e ruas, assemelhando-se ao ambiente familiar
da Revolução Industrial, comprovando que a maquiagem passada ao longo dos anos
não conseguiu esconder as cicatrizes dos abusos.
João Pedro Leite - Primeiro ano - Direito Noturno
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