“Notou que sua marmita/ Era o prato do patrão/
Que sua cerveja preta/ Era o uísque do patrão/ Que seu macacão de zuarte/ Era o terno do patrão/ Que o casebre onde morava/ Era a mansão do patrão/ Que seus dois pés andarilhos/ Eram as rodas do patrão/ Que a dureza do seu dia/ Era a noite do patrão/ Que sua imensa fadiga/ Era amiga do patrão.”
(MORAES, Vinícius de; Operário em Construção)
Neste pequeno trecho do
poema “Operário em Construção”, Vinícius de Moraes expõe de maneira clara a
superexploração feita pela classe burguesa sobre a classe proletária e a
consequente desigualdade existente entre estas. Pensando no que Marx afirma em “O
Capital”, conseguimos compreender como o burguês conseguiu ampliar de maneira
tão significativa o seu lucro sobre o proletariado com o surgimento das
fábricas.
Segundo ele, a máquina na
Idade Moderna emancipa tanto a capacidade humana como a produção; ou seja, a
máquina, superando as capacidades físicas do homem, consegue produzir mais e em
menos tempo do que este. A máquina produz a mesma quantidade de produtos que um
trabalhador produziria em um espaço de tempo muito menor; no entanto, mesmo com
tal aumento na velocidade da produção, o trabalhador manteve as mesmas jornadas
de trabalho, que chegavam a ser de até dezoito horas por dia. Assim sendo, o
trabalhador acabava por trabalhar gratuitamente em parte de sua carga horária,
ampliando a mais-valia e, consequentemente, o lucro do burguês. Além disso,
vale ressaltar que, com o aumento da produtividade, há maior oferta de
produtos, o que barateia a mercadoria. Se a mercadoria torna-se mais barata,
torna-se mais acessível a um mercado de massas, composto pelo próprio
proletariado que a produz.
Durante todo esse processo,
o trabalho do homem teve cada vez menos importância com relação à produção.
Anteriormente, com a realização do trabalho artesanal, o homem era responsável
por toda a confecção do produto e conhecia todas as etapas do processo de
produção. Mais tarde, com a manufatura, houve uma forte divisão do trabalho e,
como cada um era responsável por uma das etapas, o homem passou a desconhecer
todo o processo de produção. Finalmente, com o surgimento da maquinofatura, o
homem já não passava de um simples operador da máquina e esta realizava a
produção do produto inteiro. Diante de tal realidade, sabendo
que a burguesia estava interessada somente com a obtenção de lucro e
desconsiderava o bem estar físico e social do operário, a fim de explorá-lo
cada vez mais e que o trabalho deste já não possuía tanta importância, posto
que era como se este fosse apenas mais uma parte da máquina - então responsável
pela confecção dos produtos -, podemos dizer que a condição humana, aos poucos, foi deixada de
lado, o que levou a um processo de desumanização do homem.
O proletariado, tendo que
trabalhar dessa forma para poder sobreviver, não possuía tempo livre para refletir e questionar a respeito da sua própria situação, o que retardava
o desenvolvimento do homem político. Mas, depois de tantos anos de exploração,
o operário finalmente tomou consciência do seu papel e da sua importância sociais, deixando de ser um “operário em construção” e
passando a ser um “operário construído”. Desse modo, após muita luta, a classe
trabalhadora adquiriu direitos e tentou reverter essa injusta realidade. Não
podemos dizer que nada mudou, pois houve progresso com relação aos direitos do
trabalhador e à consciência de que a condição humana deve ser respeitada. Entretanto,
infelizmente, sabemos que o capitalismo baseia-se na desigualdade entre os
homens e que, ainda hoje, a classe trabalhadora é explorada em prol do
benefício de uma pequena parcela da população.
Lívia Costa Pinheiro –
Tema 5: A máquina, a produtividade e a condição humana
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