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segunda-feira, 18 de junho de 2012


“Notou que sua marmita/ Era o prato do patrão/ Que sua cerveja preta/ Era o uísque do patrão/ Que seu macacão de zuarte/ Era o terno do patrão/ Que o casebre onde morava/ Era a mansão do patrão/ Que seus dois pés andarilhos/ Eram as rodas do patrão/ Que a dureza do seu dia/ Era a noite do patrão/ Que sua imensa fadiga/ Era amiga do patrão.
(MORAES, Vinícius de; Operário em Construção)

Neste pequeno trecho do poema “Operário em Construção”, Vinícius de Moraes expõe de maneira clara a superexploração feita pela classe burguesa sobre a classe proletária e a consequente desigualdade existente entre estas. Pensando no que Marx afirma em “O Capital”, conseguimos compreender como o burguês conseguiu ampliar de maneira tão significativa o seu lucro sobre o proletariado com o surgimento das fábricas.

Segundo ele, a máquina na Idade Moderna emancipa tanto a capacidade humana como a produção; ou seja, a máquina, superando as capacidades físicas do homem, consegue produzir mais e em menos tempo do que este. A máquina produz a mesma quantidade de produtos que um trabalhador produziria em um espaço de tempo muito menor; no entanto, mesmo com tal aumento na velocidade da produção, o trabalhador manteve as mesmas jornadas de trabalho, que chegavam a ser de até dezoito horas por dia. Assim sendo, o trabalhador acabava por trabalhar gratuitamente em parte de sua carga horária, ampliando a mais-valia e, consequentemente, o lucro do burguês. Além disso, vale ressaltar que, com o aumento da produtividade, há maior oferta de produtos, o que barateia a mercadoria. Se a mercadoria torna-se mais barata, torna-se mais acessível a um mercado de massas, composto pelo próprio proletariado que a produz.

Durante todo esse processo, o trabalho do homem teve cada vez menos importância com relação à produção. Anteriormente, com a realização do trabalho artesanal, o homem era responsável por toda a confecção do produto e conhecia todas as etapas do processo de produção. Mais tarde, com a manufatura, houve uma forte divisão do trabalho e, como cada um era responsável por uma das etapas, o homem passou a desconhecer todo o processo de produção. Finalmente, com o surgimento da maquinofatura, o homem já não passava de um simples operador da máquina e esta realizava a produção do produto inteiro. Diante de tal realidade, sabendo que a burguesia estava interessada somente com a obtenção de lucro e desconsiderava o bem estar físico e social do operário, a fim de explorá-lo cada vez mais e que o trabalho deste já não possuía tanta importância, posto que era como se este fosse apenas mais uma parte da máquina - então responsável pela confecção dos produtos -, podemos dizer que  a condição humana, aos poucos, foi deixada de lado, o que levou a um processo de desumanização do homem.

O proletariado, tendo que trabalhar dessa forma para poder sobreviver, não possuía tempo livre para refletir e questionar a respeito da sua própria situação, o que retardava o desenvolvimento do homem político. Mas, depois de tantos anos de exploração, o operário finalmente tomou consciência do seu papel e da sua importância sociais, deixando de ser um “operário em construção” e passando a ser um “operário construído”. Desse modo, após muita luta, a classe trabalhadora adquiriu direitos e tentou reverter essa injusta realidade. Não podemos dizer que nada mudou, pois houve progresso com relação aos direitos do trabalhador e à consciência de que a condição humana deve ser respeitada. Entretanto, infelizmente, sabemos que o capitalismo baseia-se na desigualdade entre os homens e que, ainda hoje, a classe trabalhadora é explorada em prol do benefício de uma pequena parcela da população.

Lívia Costa Pinheiro – Tema 5: A máquina, a produtividade e a condição humana

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