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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Interpretação de um país difícil de entender perante a visão da cultura singular

Artigo sobre o Brasil divide internautas

Sob o título "Brasil: Da Cirurgia Plástica aos Motéis", o jornal britânico The Sunday Times, a versão de domingo do tradicional The Times, publicou no último fim de semana um "guia" sobre o  que chama de "o país mais quente da Terra".

Além de citar sucessos do cinema e da música brasileira, o texto relaciona o que descreve como "hábitos" de moda e comportamento no Brasil e a eleição de um trabalhador para a Presidência para argumentar que o Brasil é mais "in" do que nunca.

O repórter Alex Bellos - um ex-correspondente no Brasil - pergunta por que o país é tão atraente e responde: "Porque é diferente. Grande, auto-suficiente e isolado o suficiente para desenvolver uma sociedade paralela, com atitudes próprias em relação a assuntos importantes como religião, raça e sexualidade".

A reportagem, no entanto, também usa lugares comuns, ao descrever a maneira como os brasileiros costumam ir à praia para paquerar (sem lembrar aos leitores estrangeiros que a maioria das cidades do Brasil não tem praia), ao citar o "bumbum redondo e grande" como preferência dos homens e ao comentar as diferenças de classe que "permitem que famílias de classe média tenham empregada e não saibam cozinhar e nem fazer a cama".

O jornalista também diz que é fácil encontrar um motel no Brasil e destaca a onda de cirurgias plásticas para aumentar os seios e o número cada vez maior de pessoas em academias de ginástica pelo país.

Os internautas escreveram o que pensavam da imagem do Brasil traçada na reportagem do Sunday Times. Responderam às perguntas: A reportagem reflete os hábitos e gostos dos brasileiros? É essa a imagem do país que os estrangeiros devem ter? Na sua opinião, por que o Brasil é retratado dessa forma na imprensa internacional?

Este fórum foi encerrado. Leia abaixo a opinião de internautas que visitaram o site da BBC Brasil


"Propaganda (positiva) do país, em qualquer mídia internacional, leva ao turismo. Turismo gera empregos, empregos geram dinheiro. E dinheiro, minha gente, é o que o nosso país mais precisa! Não se pode levar essas reportagens a ferro e fogo. E sexo em todo canto? Claro que tem. Ou ninguém mais assiste televisão? Com tanto “Tchan” e músicas que enaltecem o corpo, não há nada mais a ser dito. Temos que reconhecer que tudo isso é tão "normal" ao Brasileiro quanto a pontualidade ao Inglês."

Katia, Birmingham (Inglaterra)

Análise:

    Unindo os entendimentos de Weber e Jessé Souza, será analisada a reportagem acima, bem como o apontamento da internauta identificada como Kátia Birmingham. Nessa perspectiva, o entendimento do Brasil como o país das praias de paquera, do "bumbum redondo e grande", dos motéis e das cirurgias plásticas refletem nada menos do que a visão da cultura singular brasileira. Essas interpretações trazem à tona a seguinte reflexão: o que impulsiona as pessoas a terem esse entendimento da cultura brasileira?

    Inicialmente, é preciso questionar: é possível separar a cultura das relações econômicas e das instituições? Kátia esclarece a resposta desse questionamento. A mulher, em seu comentário, afirma que essa noção de Brasil propagada nada mais é do que "propaganda (positiva) do país, em qualquer mídia internacional, leva ao turismo. Turismo gera empregos, empregos geram dinheiro. E dinheiro, minha gente, é o que nosso país mais precisa". Dessarte, a internauta aponta o mercado como uma das justificativas para legitimação desse pensamento. A partir disso, podemos entender um pouco mais dessa identidade nacional única observada. Não é possível desvencilhá-la do mercado.

    Desse modo, uma vez estabelecido dentro de relações de produções, as quais colocam o mercado competitivo e o Estado que atende às demandas desse próprio mercado no posto central, o Brasil não se enquadrar nas modelações culturais promovidas pelas instituições é impraticável. A cultura impermeável aos condicionamentos da estrutura é impossível, contudo assume variações.

    Portanto, essas ações sociais, como intituladas por Weber, isto é, a condução da vida, são orientadas por valores os quais são institucionalizados. Todavia, Souza se debruça nas instituições não como meros edifícios. São aquelas que enquadram as ações sociais. Sendo assim, encaixotar o "ser brasileiro" atrelado à terra do sexo, da paquera, das mulheres é normalizado, dado que são institucionalizados pela mídia os princípios por trás, por exemplo com a televisão, assim como exposto por Kátia:

    "Não se pode levar essas reportagens a ferro e fogo. E sexo em todo canto? Claro que tem. Ou ninguém mais assiste televisão? Com tanto "Tchan" e músicas que enaltecem o corpo, não há nada mais a ser dito. Temos que reconhecer que tudo isso é tão "normal" ao Brasileiro quanto a pontualidade ao Inglês". 

    Mas será que o Brasil é somente isso? Somos apenas compostos por essa simplicidade cultural ou somos um país difícil de entender?

    Anna Beatriz Hashioka- Direito diurno


 

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