Em 2020, o Brasil se encontrava na décima
segunda posição entre os maiores PIBs do mundo. Ao mesmo tempo, o Brasil voltava
para o mapa da fome e da miséria. Um país tão rico, no qual tão poucos usufruem
dessa riqueza. É difícil não se perguntar “onde será que erramos?”, “onde será
que falharam conosco?”
O sistema é algo complexo e muito sutil na
forma com que ele nos influencia. Ele se faz parecer a coisa mais importante do
mundo. Ele faz parecer que, sem ele, nós não seriamos nós, que nossa sociedade
colapsaria. De certa forma, o Mercado competitivo capitalista diz: “não haveria
inovação sem mim”, “ninguém faria nada sem mim”.
Essa lógica utilitarista está tão
intrínseca na nossa vivência que a adotamos sem reparar, e se torna cada vez
mais difícil enxerga-la de forma crítica, pois ela se faz parecer “simplesmente
como as coisas são”. Essa influência estratégica é inclusive citada no texto de
Jessé Souza, quando Souza menciona a ideia de meritocracia.
Desse
modo, a desigualdade tem que assumir uma forma “individual” para ser legítima.
Essa forma individualizada de desigualdade, construída para negar a forma real
e efetiva da produção classística da desigualdade, é exatamente a “ideologia da
meritocracia”. Segundo essa ideologia, a desigualdade é “justa” e “legítima”
quando reflete o “mérito” diferencial dos indivíduos.
Em outras palavras, as instituições fazem
com que as falhas em suas sistematizações sejam justificadas no erro pessoal e
humano. Ou seja, nessa linha de pensamento, o sistema é simplesmente como as
coisas devem ser, não há como muda-lo, ele é a conclusão natural. Aqueles que
não sucedem nele que estão errados, eles são a verdadeira falha.
E nós acreditamos. Nós acreditamos que ter
valor é o mesmo que ter preço, e por isso mesmo, colocamos preço em tudo. Em
nossa arte, em nossas paixões, e até em nós mesmos. O que não pode ser
precificado não tem valor algum, jogue fora, desista, é inútil. E se você se
tornar o objeto inútil na sociedade? Que outra alternativa você tem, se não
desistir?
Desumanizamos uma parcela inteira da nossa
população pois se não o fizermos, teremos que assumir que o sistema é falho e
que somos responsáveis pelo sofrimento dessas pessoas; e no fim do dia, o
Brasil é uma nação em negação.
Vitoria Talarico de Aguiar, 1º ano, diurno
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