Dentro de um contexto histórico de formação da sociedade brasileira, percebe-se que o pais desde o princípio apresentou uma grande diversidade sociocultural. Assim como Darcy Ribeiro alegava que o Brasil era uma “colcha de retalhos" pela miscigenação brasileira, até hoje há uma gama de raças que compõem o país (pretos, pardos, indígenas, amarelos, mestiços, brancos...). Além disso, a questão cultural é colocada em evidência pela variedade de religiões, costumes, sotaques, estilos musicais, entre outras formas de expressão.
Diante desse panorama social, algumas barreiras e discriminações foram criadas com o tempo, de modo que grupos minoritários ainda sofrem uma marginalização. Sob essa perspectiva, a interpretação da realidade brasileira contém aspectos a serem analisados tanto dos grupos que exercem dominação, quanto às minorias que são dominadas.
Em primeiro lugar, de acordo com Weber, em sua obra “Economia e Sociedade”, o conceito de dominação está vinculado a um exercício de poder, na qual uma força externa tenta impor a própria vontade em uma relação social. Nesse sentido, é possível identificar na sociedade brasileira aspectos de dominação cultural em muitas esferas. Vide a discriminação regional sofrida por nordestinos pelo seu sotaque; a discriminação religiosa sofrida por devotos de religiões de matriz africana; ou então a própria discriminação racial sofrida por pretos, pardos e indígenas, por exemplo. Em todas essas problemáticas, há por trás uma parcela que exerce essa dominação, podendo ser identificada com a imposição de “padrões” por indivíduos das grandes cidades, pelos fiéis de religiões de tradição europeia e pelo racismo velado ou não de uma parcela branca.
Em segundo lugar, a dialética weberiana aborda sobre a relação entre cultura e as instituições. Segundo o filósofo, “não se pode separar a “cultura" das “instituições” e das práticas institucionais e sociais que lhes correspondem”. Com isso, observa-se que as principais instituições de poder desde o período de colonização brasileira foram o Estado e a Igreja. Ambos contribuíram para a formação de uma maioria social, seja nas percepções ideológicas, seja nas percepções na defesa de uma cultura “ideal”. Tendo em vista a formalização de Constituições outorgadas, ditaduras e a manutenção de líderes pouco adeptos a atender as minorias, a população sempre presenciou, foi influenciada e contribuiu para a manutenção de padrões culturais homogêneos, mesmo em um Brasil tão heterogêneo.
Infere-se, portanto, que uma das dificuldades em se compreender e interpretar a sociedade brasileira está em seu âmbito cultural. Há uma dicotomia entre a dominação das camadas que impõem valores e uma variedade de camadas minoritárias que sofrem uma discriminação histórica. Além disso, a ideia de Weber que relaciona cultura e instituições contribui na identificação de um processo histórico injusto, na medida em que o Estado brasileiro sempre prezou pela continuidade de padrões culturais que prejudicam determinadas parcelas sociais, que também fizeram parte da construção do país. Desse modo, é importante que essas minorias tenham voz e que a dominação dê lugar a um espaço plural, no campo das ideias e da cultura.
Gabriel Drumond Rego - Direito matutino - Turma XXXVIII.
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