De acordo com o sociólogo alemão Max Weber, a sociologia é “uma Ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la causalmente em seu curso e em seus efeitos”, capaz de compreender a realidade e elaborar uma crítica ao mundo, mantendo uma metodologia científica de caráter universal. Pode-se dizer que o ponto mais significativo de sua teoria foi a caracterização das ações sociais, um tipo de conduta do indivíduo que reflete sentido tanto para ele quanto para aqueles que são afetados, somente estabelecida pela comunicação em sociedade. Sob uma análise mais evidente, é possível notar que a ação social é historicamente construída e recebe influencias do contexto cultural em que está inserida, forjando a maneira como os indivíduos enxergam a realidade e os valores que serão escolhidos como base por eles na tomada de decisões.
Nesse
sentido, o modo de conduzir a vida está sob interferência de estímulos
externos, que devido a competição entre vontades, exercem poder e domínio sobre
os seres. Nesse contexto, a cultura tem a função de sintetizar os princípios
divergentes e estabelecer a preponderância de uma determinada forma de conduta,
que terá as instituições como garantia de enquadramento e cumprimento da norma
por toda a conjuntura. Para isso, a dominação busca cultivar coletivamente a legitimidade,
capaz de justificar a soberania de uma ação social e assegurar seu efeito, o
que, por conseguinte, faz das instituições essenciais, uma vez que traduzem o
poder e disseminam os valores e ideais que devem guiar o comportamento em
sociedade.
Historicamente
fundadas na noção de virtude, as instituições e os efeitos que produzem no
comportamento da população podem ser explicados a partir da análise das fontes
morais em que foram concebidos o Estado e o mercado. Essas bases atribuíram ao
trabalho um valor social central, tendo em vista a valorização da obediência e
do autocontrole da mente em detrimento do ócio e da indisciplina do corpo. Por consequência,
o trabalho assume a capacidade de dignificar o homem moderno, o que vem
acompanhado da disseminação da falsa ideia de que diferenças sociais, econômicas
e de oportunidade não interferem no tratamento igualitário dos indivíduos. Na
modernidade, a institucionalização desses valores estabelece uma hierarquia em
relação ao comportamento dos indivíduos - construindo o poder e a dominação,
mediante a racionalização da ciência, do Estado e do direito – e contribui para
uma concepção que enaltece a “natureza” subjetiva peculiar de cada indivíduo.
Desse modo, a materialização do “ideal moderno” vincula-se à garantia de
oportunidade de acesso ao trabalho digno e útil, bem como à realização plena da
individualidade.
O
que se observa, no entanto, é um déficit na realização desse ideal, que
legitima discursos infundados, por meio da escusa da autenticidade, e nega as
desigualdades sociais, defendendo a meritocracia. À luz dessa ideia, uma análise
precipitada da realidade brasileira pode resultar em uma interpretação de cunho
culturalista, que erroneamente atribui uma identidade nacional singular e esconde
os verdadeiros responsáveis pela dominação e persistência da desigualdade. Logo,
para investigar uma sociedade periférica é preciso criticar a estrutura e as instituições
que produzem a injustiça, fugindo da abordagem do culturalismo de explicar a
realidade nacional através do “jeitinho brasileiro”, como se os “males” que
perseguem o país, sua estrutura econômica e respectivas instituições não tivessem
nenhuma relação. Pois, como afirmou o sociólogo Jessé de Souza em sua obra “A
Ralé Brasileira”, “a genealogia das fontes morais de Estado e mercado é a chave
para percebermos toda uma concepção de mundo que implementamos todo dia”.
Giovanna
Cardozo Silva – matutino – Turma XXXVIII
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