Segundo o sociólogo Jessé Souza, a análise da sociedade brasileira sempre se baseou em uma suposta cientificidade, que pregava uma singularidade cultural do país, que forma a identidade nacional do brasileiro como se fosse uma entidade própria. Porém, essa teoria é certamente influenciada por fatores ideológicos, utilizada como meio de legitimação política para criar uma solidariedade social entre classes em potencial conflito.
De acordo com esse pressuposto, as características culturais brasileiras, assim como suas problemáticas envolvidas, teriam sido abdicadas dos portugueses. Entretanto, a cultura deve ser analisada juntamente com as instituições sociais, pois elas determinam o comportamento dos indivíduos e sua percepção de mundo, sem que se haja uma consciência disso. As instituições fundamentais que regem a sociedade moderna são: o mercado capitalista e o Estado, estabelecendo uma superioridade das formas econômicas sobre as políticas e culturais, uma vez que o dinheiro e prestígio social são monopolizados e só são alcançados através dessas estruturas.
Essas entidades são tão naturalizadas pela população, que se esquece que foram inventadas, e sendo assim, podem ser alteradas e reconstruídas. Essa conjuntura corrobora com a dominação exercida pelas classes dominantes e com a manutenção da ordem social estabelecida, pois se imagina que os valores e ideais do Brasil e de sua população são imutáveis, quando na realidade estão intensamente vinculados às instituições e escolhas culturais dentro de determinado contexto. Desse modo, não há transformação no país, e o contingente populacional que sustém a pirâmide social continua sofrendo com a perpetuação de sua exploração.
Um exemplo desse tipo de característica naturalizada pela sociedade é o denominado “jeitinho brasileiro”, ensinado de geração a geração e caracterizado como inerente à brasilidade. Esse “jeitinho” pode ser utilizado para justificar situações em que ocorre corrupção, com a desculpa de que esse é um atributo permanente do brasileiro. Assim, se estabelece uma dificuldade de os indivíduos lidarem com a esfera pública de forma formal e impessoal, acarretando no descumprimento de leis, normas e regras e concessão de favores a conhecidos, mesmo que de maneira injusta. Portanto, pode-se afirmar que a identidade nacional que o brasileiro tem de si mesmo é um fator crucial na perpetuação da situação do mesmo, viabilizando ou não uma mudança social. Todavia, esse cenário de transformação é extremamente dificultado sem que a população alcance uma criticidade adequada para reparar suas adversidades e modificar a imagem que tem de si mesma.
Sofia Garbarino Nogueira - Matutino - 1º semestre - Turma XXXVIII
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