A República Brasileira completa neste mês de novembro 132 anos, no dia 15. Neste dia, em 1889, o “golpe político-militar” se deu e o novo regime que se instaurou possuía referências diversas do dos governantes luso-brasileiros. Uma das referências era Auguste Comte, expoente do positivismo, teoria que se baseia na ideia do progresso contínuo da humanidade, sendo esse progresso baseado no processo científico e nas ditas ciências positivas.
Um dos adeptos a essa doutrina era o próprio Deodoro da Fonseca, primeiro presidente brasileiro e figura central da proclamação. Logo, os impactos dessa filosofia foram tremendos e moldaram nosso sistema de forma multifacetada. Mas o que nós temos a dizer dessa filosofia, 132 anos depois? Se estivéssemos naquele 15 de novembro, na praça da aclamação, qual seriam nossos sentimentos acerca do novo mote?
De certo a ideia de ordem não soa mal, muito menos a de progresso. Porém seria o progresso realmente algo inevitável? Seria a ordem sempre benéfica? No que tange a aplicação dessas ideias, podemos dizer, uma vida e meia depois, que não se efetivaram. A ordem se tornou seletiva e casuística. E o progresso, raro, custoso e evitável.
O positivismo, passando por um funil militar e aplicado nas normas do estado brasileiro, funciona apenas na mente de quem acredita estar a serviço do progresso, de forma conveniente, utópica, como um grande engenheiro social. As mudanças de cima pra baixo, que partem da ideia de que é possível modificar a sociedade do alto, sem grandes transtornos e de maneira controlada, chegam na ponta mostrando sua verdadeira face; após a imposição da realidade, algo que já não era bom acaba sendo ainda pior.
No Brasil de hoje, nosso motor, em relação ao mundo, não é “descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, as relações invariáveis de sucessão e de similitude”, mas sim rechaçar a ciência e a observação, seus produtos e métodos.
A ordem, que seria universal e garantiria o ambiente propício ao progresso contínuo, aparece apenas nos códigos e em bravatas (aliás, efetivas), de forma fluida e bem flexível.
O progresso, que seria o fim inevitável da aplicação das bases de Comte, aparece apenas como lema e se encontra em um cabo de força com o retrocesso.
Nosso princípio é o sectarismo, nossa base é a ignorância e o nosso fim é o inferno na terra. Assim como o positivismo suplantou um conjunto de valores anteriores, talvez devêssemos fazer o mesmo. Se tomarmos o progresso como algo raro, talvez sairíamos da inanição e trabalhássemos a fim de fazê-lo acontecer.
Miguel Francisco C. R. - Turma XXXVIII (noturno) - 1° Semestre
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