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segunda-feira, 19 de julho de 2021

A autoestima de Comte

Criador do pensamento positivista, Auguste Comte influenciou diferentes ramos da ciência. Sua importância para a  criação da sociologia é enorme. Mas apesar de tudo, o que surpreende em relação a Comte é sua autoestima, que chega ao ponto de considerar sua verdade acima das outras. O erro e a pretensão de Comte foi pensar que ele era o único correto e o único caminho possível para a felicidade. 

Comte em sua obra “Discurso sobre o espírito positivo” usa boas páginas para depreciar o pensamento da época e consagrar o seu. Incapaz de notar um benefício que fosse no espírito teológico-metafísico, Comte diz que a única forma de se acabar com a grande crise vigente na época era o positivismo. Na cabeça de Comte, o positivismo é uma verdade absoluta e é superior às demais formas de entendimento.

O segundo erro do positivismo foi confiar demais na razão. Comte tenta analisar de forma exclusivamente racional algo extremamente subjetivo, o homem. Esse exagero na análise lógica na busca por leis gerais fez com que o sociólogo observasse os problemas sociais de maneira superficial. Esse reflexo do positivismo pode ser encontrado até nos dias de hoje, na solução de obstáculos de forma imediatista, não resolvendo o problema a longo prazo. 

Um exemplo claro dessa visão rasa do positivismo sobre os problemas sociais pode ser visto na pobreza. Políticas públicas que visam um bem imediato são aplicadas, mas sem um estudo profundo que procure as raízes da indigência humana e uma ação que haja sobre ela, a miséria não será superada. Os auxílios financeiros dados pelo Estado para as pessoas em situação de vulnerabilidade são bons e ajudam a aplacar o problema, mas não dão fim a ele. A melhora do ensino público, por exemplo, é essencial para acabar com a pobreza a longo prazo.

Em conclusão, não se pode negar a relevância de Comte e sua importância para a formação da sociologia. Todavia, é necessário perceber esse apego excessivo  pela lógica, razão e precisão não pode ser aplicada ao homem. O ser humano não se encaixa em regras e medidas fechadas, é um indivíduo que está sempre se transformando e adaptando. Quão alta foi a autoestima de Comte para ele considerar que o seu ideal era único correto, que não havia na sua tese um erro que fosse, que todas as outras convicções são inferiores? O fruto atual desse narcisismo exacerbado do francês, principalmente no Brasil, é uma política que muitas vezes desconsidera a dignidade do povo em prol do progresso, como é o caso na flexibilização das leis trabalhistas. 

 


Laura Lopes de Deus Pires

Direito matutino - Turma XXXVIII

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