No dia 15 de Novembro de 1889 é
instaurada a república brasileira. Sob o lema de “ordem é progresso”, que ainda
estampa a nossa bandeira, colocamos um pé na modernidade através de,
ironicamente, um golpe de Estado. O lema do positivista, apesar de saltar aos olhos
em um primeiro momento, pode soar sarcástico se pensarmos que esse passo para o
futuro se dá de forma tão arbitrária. Que preço podemos pagar pelo progresso?
Com a sua filosofia Positivista,
Auguste Comte é pioneiro a identificar que a sociedade deve ser um objeto de estudo.
Critico à religião e a metafísica, ele baseia sua filosofia no estudo das coisas
como são, não idealizando como deveria se e, dessa forma, defende que as
sociedades passam por três etapas de desenvolvimento: o teológico, onde as
buscas por resposta se pautam na fé, em Deus como a resposta; o metafísico, um
estágio de transição que evolui do primeiro e onde o homem deixa de responsabilizar
Deus por todos os fenômenos; e, por fim, o positivo ou científico, em que o
homem passa a buscar os fenômenos na ciência. É nessa teoria dos três estados
que baseia o desenvolvimento das sociedades e da natureza humana, de uma forma linear
e sentido único.
Entretanto, sabemos bem que
sociedades não evoluem naturalmente, mas utilizando de tal análise é que
justificativas como as para a escravização de indígenas e negros surgem,
colocando os portugueses, por exemplo, como aqueles que vem para levar povos
ditos atrasados em direção ao progresso, ou até mesmo norteando políticas de “branqueamento
da população” como as aplicadas no Brasil com o fim da escravidão. O negro
agora liberto representava o atraso, o padrão branco e europeu era considerado
o grande ideal do progresso, dessa forma seriam eles, os brancos europeus, a
ajudarem a impulsionar o país em direção ao futuro. Essa política, apesar de
nada recente, ainda surte efeito na atual sociedade brasileira, sendo uma de
muitas políticas adotadas desde o declínio da escravidão e que contribuíram
para a formação do abismo entre os povos marginalizados e a dignidade.
Ainda que suas ideias representem um
avanço em relação a época e o positivismo ainda reverbere pelo mundo, a
contribuição de Comte pode ser levada como uma via de mão dupla. Representa
tanto aquela que é a fagulha para o surgimento de uma nova forma de analisar o
homem e a sociedade, como também, nos discurso de quem convém, a justificativa
para ideais e atrocidades injustificáveis em nome do progresso.
Jordana Queiroz Dias, 1º semestre - Diurno.
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