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segunda-feira, 19 de julho de 2021

Positivismo: Bonito na Teoria, Falho na Prática

  O positivismo é uma corrente filosófica que teve sua gênese no contexto da ascensão da burguesia na França no início do século retrasado. Propõe-se a utilizar a ciência empírica como motor da sociedade e defende o conhecimento científico como única forma de conhecimento válida. Negam assim tanto o racionalismo quanto a metafísica em uma atitude que a primeira vista pode aparentar uma certa superioridade ideológica e iludir aqueles que se consideram progressistas, amantes da ciência ou ateus/agnósticos. Entretanto, como de praxe, nem tudo é o que aparenta ser e o positivismo, apesar de alguns fundamentos até que nobres, é de forma geral uma ideologia tóxica para a sociedade. 

 O pilar positivista de que apenas a ciência é fonte legítima de conhecimento é bastante problemática e pode acarretar na crescente hostilização de religiões minoritárias ou crenças religiosas comunitárias. Fé e ciência não são excludentes, inclusive a ciência sendo importante para conceder uma maior coesão para as religiões. O que não significa, claro, que a religião deve ser o fator primário que reja as relações da sociedade, principalmente em um país laico como o Brasil. Entretanto, feito essa ressalva, é importante ressaltar que a crença em algo, não necessariamente uma religião específica, é algo inerente da natureza humana, como visto na série de 2019 Raised by Wolves, na qual os personagens por mais que tentem se afastar de crenças, acabam inevitavelmente se envolvendo com elas. O positivismo ao adotar essa postura anti-teológica radical, nega algo intrínseco da humanidade.

 Outro problema é a preconização da aderência à ordem moral e o respeito as leis. O que pode a princípio soar como a promoção de um certo dever cívico, esconde ''segundas intenções'' não desejáveis. O ato de seguir estritamente as ordens de governos e exércitos, ao longo da história se mostrou algo catastrófico, havendo o holocausto como exemplo mais infame disto. O positivismo não suscita uma reflexão sobre a validade e legitimidade de ordens, decretos e leis. Pelo contrário, em prol da ordem social, promove a obediência inquestionável delas, principalmente se houver uma justifica (pseudo)científica por trás.

 Um outro ponto importante de se abordar é a recusa do positivismo em investigar as causas e finalidades de fenômenos tanto de natureza física quanto social, se atendo as leis e relações entre eles. Isso é um absurdo, pois apenas entendemos verdadeiramente como um determinado fenômeno funciona ao descobrirmos e compreendermos suas causas. Entender sua finalidade ou consequência também e importante para saber como tal fenômeno nos prejudica ou beneficia. Entender as causas é ainda mais primordial nas ciências humanas, pois a história é cíclica (se permitirmos) e portanto devemos nos precaver quanto a eventos do passado que podem acontecer novamente. Imagina se os historiadores não entendessem a causa no nazismo, estaríamos constantemente vulneráveis desse odioso fenômeno político nos assolar novamente. 

 O ponto final que é importante de se analisar é o conceito comtiano da Lei dos três estados. Ele faz uma divisão ilógica do entendimento humano ao longo da história. Ilógica pois é difícil, se não impossível, traçar uma linha de onde termina um estágio e o outro começa. Além de que, na realidade os três estágios não são totalmente distintos entre si, e sim na realidade convergentes. Podemos observar na antiguidade clássica filósofos como Aristóteles usando da razão como fonte de explicação do mundo, enquanto na atualidade encontramos pessoas que em detrimento da ciência, se guiam muitas vezes puramente pela religião, como é o caso do atual (des)governo federal.

Conclui-se, portanto, que as ideias do Comte e do positivismo como um todo, apesar de ter um ou outro ponto louvável (como a valorização da ciência), ao serem analisadas a fundo, demonstram uma séries de lacunas em campos como lógica, proteção as minorias e ponderação. Concluo, também então, que não é uma ideologia/pensamento filosófico desejável, e suas influências arraigadas na política (fundamentou a deplorável república velha), cultura (está inoculada no imaginário popular devido a símbolos como o lema da nossa bandeira) e economia (busca tirar o caráter humano dela, tornando-a em uma ciência que puramente lida com números em detrimento das camadas populares, que precisam de atenção especial do Ministério da Economia) nacional devem ser expurgadas.

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