O século XVIII, também chamado de século das luzes, foi um
marco do desenvolvimento do cientificismo e das teorias políticas e econômicas
burguesas da história europeia. Tal período caracterizou-se pelo nascimento do
liberalismo, pela criação da teoria da laicização do estado, assim como a persistente
defesa dos direitos da burguesia realizada pelos filósofos e pensadores da
época. Influenciada por esses ideais, a revolução francesa de 1789, fruto dos
anseios desse período, foi um marco determinante da ascensão burguesa ao poder
político e econômico não só da França, mas também de todos os países europeus
que também aderiram a esse movimento contra o antigo regime e contra os privilégios
da nobreza e do clero. Dentro desse
cenário revolucionário, que ganharia vida novamente nas revoluções francesas de
1830 e 1848, Auguste Comte desenvolveu a teoria da filosofia positivista,
aquela que viria a ser a primeira teoria social, a qual sujeitava-se ao estudo
da sociedade e das leis atuantes no fenômeno social. Até então, apenas as ciências naturais e
exatas eram objeto de estudo nas universidades, cenário alterado por Comte, uma
vez que o positivismo tinha por premissa o desenvolvimento de uma Ciência
social.
No entanto, apesar da
revolucionária ideia de criar uma ciência social, sua teoria mostrou-se falha e
retrógrada ao tentar aplicar ao estudo sociológico premissas e conceitos que,
apesar de funcionais nos estudos das ciências naturais e exatas, não surtiriam
semelhante efeito benéfico na sociologia nascente. Comte, ao usar do método
Baconiano e Cartesiano, criaria uma metodologia de pesquisa sociológica
enfadonha, pois pautar-se-ia na busca de fatos, os quais, observados
empiricamente, conteriam a verdade sobre a realidade social do meio, algo
hodiernamente muito polêmico, uma vez que a ideologia do pesquisador pode mudar
completamente a sua visão de mundo a ponto de suas conclusões não condizerem
com as observações de outro pesquisador, por exemplo. Atualmente essa premissa
comteana foi superada, uma vez que toda e qualquer verdade científica, apesar
de pesquisada e comprovada pela comunidade de maneira intersubjetiva, continua
a ser transitória, sendo aceita até que outra teoria mais cabível a substitua.
Vê-se, portanto, que nas ciências, sobretudo na sociológica, não há uma
objetividade ou imparcialidade como Comte as defendia, sendo o método
positivista de pesquisa verdadeiramente impossível e falacioso por julgar
suficiente a simples observação dos fatos, e por defender a existência de
verdades absolutas, uma convicção atualmente superada e não mais aceita pela
comunidade científica.
Além disso, outro
fator problemático na filosofia positivista é o seu caráter estamental, visto
que Comte defendia a ideia de que para uma sociedade ser funcional ela teria de
desenvolver-se harmonicamente, com cada cidadão exercendo sua função social. A
ideia dos “lugares sociais”, os quais determinariam papéis a serem seguidos por
cada membro dessa sociedade, traz a tona a impossibilidade de mobilidade social
entre as classes. Na sociedade positivista, portanto, cada ser deveria aceitar
a sua condição, uma vez que, de acordo com a visão comteana, o coletivo se
sobressaía ao anseio individual. A humanidade era o grande ideal de sociedade,
vindo a ser, inclusive, a “deidade” consagrada na igreja positivista
posteriormente formulada. Logo, é evidente que a ideia de culto à humanidade agia
em detrimento do direito do ser humano, pois configurava-se como um modelo de castas na sociedade, visto que o
indivíduo, não sendo tão importante quanto o bem público, era, por conseguinte,
somente mais uma ferramenta do coletivo. Tal concepção social do positivismo era
amparada e justificada pelos conceitos de felicidade, a qual seria adquirida
pelo indivíduo a partir da plena aceitação de sua condição social, aceitando
inquestionavelmente seu trabalho de maneira conveniente e acrítica, e de solidariedade,
a qual relacionava-se na filosofia de Comte com a ideia de todos a serviço de
todos, cujos efeitos eram reforçadores da sociedade com classes
imutáveis, porém, supostamente, felizes com suas posições. Ao se analisar essa concepção
basilar da filosofia positivista, vê-se nela conceitos altamente retrógrados, que foram superados nas sociedades liberais e capitalistas que desenvolveram-se posteriormente. As teorias do
liberalismo econômico, assim como as insurgências da luta por direitos do
proletariado, sobretudo no final do século XIX, demonstrariam o absurdo que a
sociedade estamental representava, tanto para o desenvolvimento do capitalismo,
quanto para as relações sociais nas sociedades em que vigorava esse modelo
econômico.
Diante de tudo que
foi estabelecido sobre a filosofia positivista, conclui-se, portanto, que,
apesar de ser um importante marco do mundo científico, por ter sido justamente
a primeira escola de pensamento sociológico, o positivismo de Auguste Comte
mostrou-se retrógrado até mesmo para seu período, sendo, posteriormente,
substituído por diversas filosofias sociais mais funcionais na análise do
fenômeno social. Isso se dá, não só por Comte
ter se baseado em métodos científicos já atrasados( notadamente os de pensadores do
século XVII ) na análise social, mas também por ter formulado um modelo de
sociedade não condizente com os anseios das pessoas no contexto europeu do
século XIX.
Nenhum comentário:
Postar um comentário