A
Ideologia Alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels, propõe o início de uma análise
da sociedade burguesa, do modelo de produção capitalista que se fixava na época,
ao criar um novo método pesquisa. Embora eles não tenham vivenciado todos os
nuances do capitalismo, a teoria que criaram serve para nortear as observações
deste modelo que perdura até os dias atuais. Nesse sentido, para discutir o
sistema neoliberal será usado não somente Marx e Engels, mas também Richard
Sennett e Milton Santos.
“Os
pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos
dominante” (MARX; ENGELS, 1998 [1845-1846], p.48). Com essa frase, pode-se
dizer que o modelo de produção atual reflete o interesse da classe dominante, a
qual é detém o poder material e intelectual. Dessa forma, a flexibilização da
produção, a terceirização, a desconstrução do Estado de bem-estar social, as
privatizações, entre outras características da contemporaneidade fazem parte da
política neoliberal que engloba e garante os valores dominantes do novo modo de
produção. Porém, isso ocorre no Brasil?
O
Jornal Nacional, da emissora Rede Globo, no dia 12 de agosto de 2020, apresenta
um vídeo do presidente Bolsonaro, no qual ele defende as privatizações para o
controle de gastos, ou seja, defende a venda de instituições estatais para
controlar o teto de gastos do país. Além disso, há um crescente discurso no
Congresso Nacional, que propõe uma reforma administrativa para a
desburocratização dos processos, para que assim as privatizações possam ocorrer
de maneira mais fácil. Contudo, as instituições estatais, grande parte, tem o
objetivo de efetivar os direitos humanos que norteiam a Constituição Federal brasileira.
É, portanto, evidente que no sistema neoliberal o centro não é o ser humano e seu
bem-estar, e sim o dinheiro, assim, as crises econômicas tornam-se a grande
preocupação dos governos.
Ademais,
como mostrado no documentário Encontro com Milton Santos: O Mundo Global Visto
do Lado de Cá, 2006, as classes baixas trabalham mais por menos dinheiro e o
desemprego crescente, acontecem de acordo com a atual divisão do trabalho que
veio com a globalização, que por sua vez modificou o modelo de produção. Desse modo,
“a pobreza é tratada com normalidade”, frase dita por Milton Santos no
documentário que exprime a realidade, na qual a população pobre é excluída do
sistema neoliberal e apenas o lucro importa. Ainda sobre trabalho, Sennet constata
que o trabalho passou de permanente a duvidoso. Isto é, aqueles que possuem
emprego vivem com a incerteza se terão seus empregos no dia de amanhã. Caso não
acredite, pergunte a um pai ou a uma mãe com filhos se eles possuem sentimos de
insegurança com seus empregos quando saem de férias ou se afastam do trabalho
por doença, é quase uma certeza universal que o medo de ser demitido/substituído
está lá.
Atualmente,
com o aumento do desmatamento e focos de incêndios no território, o Brasil vem
perdendo e afastando investidores. Com isso, impulsionou a realização de uma
reunião de empresários do agronegócio e os governadores dos estados amazônicos
para discutirem sobre o desmatamento e incêndios na floresta. Está claro que
esta reunião é de cunho econômico, que eles não estão preocupados com o meio
ambiente, mas com a perda de negócios e, consequentemente, de lucro. Além
disso, no filme A Cidade de Deus, mostra o desenvolvimento do tráfico de drogas
organizado, no qual há um ‘plano de carreira’ em que o tráfico é tratado como
um negócio, possuindo assim uma hierarquia e visto como um trabalho, logo,
refletindo a estrutura do mercado capitalista. À vista disso, nota-se que a
lógica do sistema permeia sobre o meio ambiente e, até mesmo, no tráfico de
drogas.
É
fato que nos dias de hoje, possuímos condições técnicas e cientificas de
promover a dignidade humana. Entretanto, o modelo de produção atual que o capitalismo
se encontra, o centro do pensamento dominante é o dinheiro e não o ser humano,
assim, a sociedade está organizada com o objetivo de gerar lucro.
Gabriela Cardoso dos Santos - Diurno
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