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domingo, 23 de agosto de 2020

Entre materialismo, alienação e individualismo

Consoante Karl Marx e Friedrich Engels, as relações sociais e o modo de vida da sociedade são moldados pelas relações de produção e a história é influenciada pelas condições materiais dos indivíduos e da época em questão.  Nesse ínterim, o pensamento materialista histórico dialético torna-se central no processo de compreensão do mundo para Marx e Engels e a realidade, por sua vez, é algo intrínseco à história e às relações entre capital e trabalho, por exemplo.

Subjacente à tal análise, é válido destacar que “os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes” (MARX; ENGELS, 1998, p. 48). De acordo com a pertinente reflexão dos autores, é indubitável que a burguesia dita as regras e o movimento da sociedade a fim de manter o status quo. Exemplo disso na atualidade é a “sociedade do consumo” em que estamos inseridos, a qual ilude e aliena os indivíduos de forma que eles passam a acreditar que se só serão felizes se possuírem um determinado produto. Tal ilusão ocorre porque, na maioria das vezes, o indivíduo não precisa realmente do produto, e mesmo quando o adquire, a tão esperada “felicidade” dura apenas alguns momentos e é logo substituída por um novo desejo de consumir mais e mais. Vê-se, portanto, que a burguesia aliena os indivíduos de modo que a lógica dominante seja o aumento do consumo, resultando em lucro às grandes empresas. 

Ademais, é importante ressaltar que tal modo de produção capitalista, que rege inúmeras sociedades no mundo todo, engendra uma lógica de alienação do proletário, em que tal trabalhador não tem consciência da sua própria condição e noção do seu papel. Assim, o proletariado, ao vender sua força de trabalho vende também a sua própria liberdade e se torna uma mercadoria. Tal situação pode ser vista não só no modelo fordista, em que a esteira controla o tempo da produção, ou seja, a burguesia determina o tempo e o produto do trabalho do proletário mas também é evidente em praticamente todas as relações produtivas, comerciais e empresariais que regem o sistema capitalista em nossa sociedade. Nota-se que o indivíduo perde sua liberdade e humanidade, torna-se apenas força de trabalho e,  alienado de todo o processo produtivo, é transformado em coisa. Desse modo, a exploração do trabalho é o ponto fundamental que sustenta o capitalismo, tendo em vista que a classe trabalhadora se submete a condições muitas vezes exaustivas e insalubres, a fim de ganhar o mínimo para sua sobrevivência enquanto todo o lucro passa a ser do capitalista, o qual é dono da matéria-prima, do maquinário, da força de trabalho (do trabalhador) e do produto final.

Por fim, podemos afirmar que o capitalismo também é regido pelo individualismo, pelo status e pela aparência. Para ilustrar essa situação tem-se o conto “Espelho”, de Machado de Assis, que traduz muito bem a sociedade em que estamos inseridos na medida em que compara a nossa “alma externa”, ligada ao status e prestígio social, à imagem que os outros fazem de nós, afirmando que tal imagem e aparência externa é muito mais importante do que a nossa “alma interna”, ou seja, a nossa real personalidade. Analogamente a tais ideias de preocupação com a aparência está a análise de Pierre Bourdieu sobre a sociedade capitalista, na qual os indivíduos estão a todo momento preocupados com a ascensão social e em busca de “troféus”, ou seja, querem acumular capital econômico (renda, salários, imóveis), é decisivo para o sociólogo a compreensão de capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), capital social (relações sociais que podem ser convertidas em recursos de dominação) a fim de obterem prestígio e serem considerados superiores em uma sociedade moldada por relações desiguais em que a ascensão social de alguns é possibilitada por uma massa de trabalhadores em situação de miséria. 

Em suma, para agravar a questão da alienação da classe trabalhadora e a perda de humanidade, nossa sociedade é extremamente movida por status e aparência, por isso, e a fim de manter o status quo (cumprimento de papéis sociais e manutenção da desigualdade e pobreza em uma esfera da sociedade enquanto os ricos tornam-se cada vez mais abastados), o mundo torna-se cada vez mais competitivo. Por conseguinte, os indivíduos, movidos pelo individualismo, passam a ter dificuldade de pensar no coletivo e agir com empatia e solidariedade, algo muito marcante e evidente em nossa sociedade atual.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. “Feuerbach – Oposição entre a concepção materialista e a idealista”. In: A Ideologia Alemã (1845-1846). São Paulo: Martins Fontes, 1998. [p. 05-55]

 

Mariana Antonietto Alvares Cruz - 1º ano direito - Matutino




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