O sistema capitalista contemporâneo comporta uma vasta gradação de contradições e falhas estruturais que o tornam naturalmente vulnerável a transgressões à ética, à empatia e à dignidade da pessoa humana. Ao centralizar um ideal individualista, hedonista e pragmático, perde-se o sentido humanitário das relações e das ações sociais, aprofundando desigualdades e injustiças a um nível latente, que é presenciado no silêncio transbordante do capital e da desumanização das mercadorias e máquinas. Assim, não somente se assiste ao agravamento dos impactos ambientais, mas também a processos que redefinem constantemente os meios de produção e os liquidificam, sendo as relações de trabalho e produção primárias aos novos ideais que surgem em novas perspectivas e papéis no fulcro do tecido social. Na verdade, tais processos vigentes com a avançada tecnologia atual devem ser analisados com enorme cautela, pautando-se nos meios que podem trazer novo frescor de humanização a cadeias de números e códigos que continuam a distanciar a visão do outro. De fato, deve-se sair de si para ir de encontro às verdadeiras problemáticas da atualidade. Não basta perder-se no subjetivo e abstrato.
Retomando as análises do capitalismo feitas por Marx e Engels em seu respectivo momento histórico, é possível traçar metodologias para as constantes modificações que marcam o caráter desse sistema econômico no mundo a cada momento. O materialismo histórico dialético pode servir como uma sólida base para uma compreensão moderna da realidade empírica e dos novos elementos que engendram laços econômicos e sociais mais complexos. As relações de produção, segundo essa ótica, estão refletidas na organização da vida social, em sua realidade material e concreta; logo, o que os indivíduos são depende das condições materiais de sua produção. A história seria um contínuo e ininterrupto plano de alterações graduais, sempre em momentos transitórios, em que se modifica a própria natureza humana e as formas de produção e de seu entendimento, por consequência. Parte-se do visível e empírico para compreensão dos elementos que se associam em cadeia, para uma visão do todo e das partes de forma concreta. Assim, em um entendimento que parte da fugacidade no modo de produção capitalista, pode-se tentar compreender o agora, o que é, sob a luz do que já foi e em nome do que ainda não é.
A flexibilização econômica marca definitivamente o processo da globalização, reestruturando o sistema com base na velocidade, tecnologia e financeirização. As organizações desse modo de produção definem também as organizações sociais, interconectadas em um espaço de determinação e consolidação. De modo que, atualmente, há a uberização, que flexibiliza as relações de trabalho, em adstrita união com as facilidades tecnológicas e com os laços sociais instantâneos. Tudo adquire um caráter fugaz, e o trabalho entranha-se no mais íntimo e individual. A tecnologia, nesse sentido, é determinante, tendo transfigurado bruscamente as noções humanas de distância e de manutenção de relacionamentos. Ainda, a nível ideológico, revela-se a forte presença do empreendedorismo, que incita novos cargos de preparação ao mercado financeiro e à superação de metas, transformando em mercadoria mesmo as incompreensíveis camadas humanas, que devem ser preparadas ao risco, às adversidades mercadológicas e às aparências, que têm de fato sustentado todo esse conjunto. Não somente uma flexibilização das leis trabalhistas, mas da mente, em preparo a uma realidade de instantes decisivos e humanidade distante, em constante transformação íntima que abandona uma visão crítica, tal qual era a promovida por Marx e Engels.
Lucas Rodrigues Moreira – 1º
Semestre – Matutino
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