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domingo, 23 de agosto de 2020

O morrer de trabalhar na ótica contemporânea

 

          É de conhecimento geral que a vivência dos seres vivos, por via de regra, é categoricamente fundamentada no segmento das denominadas fases da vida, sendo estas: O nascimento, o desenvolvimento, a reprodução e por fim, a morte. Todavia, com a cristalização de algumas práticas capitalistas, como o hiperconsumismo, a ótica do homem pós-moderno está pautada na tentativa de eternizar a fase do desenvolvimento humano, etapa essa que teve sua essência transfigurada para o conceito de prosperidade econômica. Desse modo, percebe-se que o fato de alguém ser acometido pela Síndrome de Burnout, tornou-se uma situação corriqueira.

          A priori, é válido fazer um paralelo com a dialética marxista. O filósofo alemão Karl Marx, juntamente com seu amigo Friedrich Engels, concluíram que a formação da classe burguesa se trata de um processo de construção histórica constituída pela síntese dos princípios feudais (tese) em contraposição aos ideais camponeses (antítese). Sendo assim, fica evidente que a concepção do estamento burocrático social, como designara o jurista brasileiro Raimundo Faoro, tem a exploração imbuída em sua gênese, contribuindo assim para que a mais-valia se torne ainda mais frequente na contemporaneidade. 

          Além disso, o sociólogo estadunidense Richard Sennett ,em sua obra, "A Corrosão do Caráter", deixa explícito no comportamento de Enrico, personagem da história representado por um trabalhador sindicalizado, que a imposição do "capitalismo flexível" permite que uma nova espécie de alienação seja corporificada nos meios sociais através de uma desburocratização travestida de uma vigilância ainda mais rígida, em virtude do advento do computador. Com isso, evidencia-se que em decorrência dos indivíduos buscarem sempre um melhor desempenho laboral, os mesmos inclinam-se para uma condição de constante exaustidão, situação esta retratada no livro "Sociedade do Cansaço", do sociólogo sul-coreano Byung-Chul Han.

          Portanto, vê-se que a grande parte dos cidadãos está interiorizada nos seus respectivos Gulags, mimetizando dessa maneira, circunstâncias análogas a um regime de auto-escravidão. Por conseguinte ao fato de o trabalho ser considerado sinônimo de dignidade, muitos se tornaram legítimas "máquinas de produção", a fim de obterem reconhecimento e honrarias ante seus semelhantes. Sob essa percepção, infere-se que hodiernamente, é indubitável que o "morrer de trabalhar" se transfigurou em um preceito interligado à benemerência, o qual é indispensável para a manutenção do pleno desenvolvimento.


Mateus de Oliveira Medeiro - Curso: Direito - Turno: Noturno

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