No
panorama mundial do trabalho do século XXI, devido a flexibilização dos
direitos trabalhistas e terceirização dos serviços, estimulados pela ideologia
neoliberal, pela globalização e pela noção de acumulação flexível, isto é, produzir
conforme a demanda do mercado consumidor, abriu-se espaço para o surgimento de
empregos sem vínculos empregatícios. Em consonância, elevou-se a maior
propensão desses trabalhadores à exploração, como é o caso dos entregadores de
aplicativo, uma nova classe de trabalhadores surgido com os aplicativos de
smartphones. Devido a constante situação de incerteza e de risco existente nas
sociedades atuais, justamente pelo medo do desemprego, a necessidade de
trabalhar e a extrema desigualdade social existente no Brasil, são fatores contributivos
para que muitos se submetam a empregos sem vínculos empregatícios e, dessa
maneira, sem direitos trabalhistas. Isso acaba por gerar a exploração desses
trabalhadores, devido a necessidade do aumento das horas de trabalho para se conseguir
uma boa remuneração.
Foi
nesse sentido que em julho de 2020, entregadores de aplicativos realizaram duas
greves nacionais que ficaram conhecidas como Breque dos Apps em busca de
melhores condições de trabalho e de direitos trabalhistas. As péssimas
condições de trabalho e de exploração a que essa classe de trabalhadores já
estava submetida foi potencializada ainda mais pelo contexto atual pandêmico de
covid-19, tendo em vista a queda do número de entregas e, desse modo, da
remuneração desses entregadores de aplicativos1. Além disso, o risco
à saúde foi também ampliado nesse contexto de pandemia.
Como
demonstrado pelos estudos sobre o funcionamento do sistema capitalista pelos
sociólogos Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX, o capitalismo é um
sistema econômico marcado por extremas contradições. Baseado na obtenção do
lucro, esse sistema se sustenta pela classe proletária vendendo sua força de
trabalho para os donos dos meios de produção em troca de um salário. Assim, por
meio do conceito de mais valia, em que a partir do excedente produzido pela
exploração do proletariado a burguesia retira o lucro, bem como pela dinâmica
das relações de consumismo na sociedade capitalista, há a detenção da maior
parte das riquezas para os burgueses, o que reproduz e sustenta a desigualdade
social. Sobre essa perspectiva e no contexto do ano de 2020, enquanto os
entregadores de aplicativos lutam por direitos trabalhistas e melhores
condições de trabalho, os super-ricos brasileiros tiveram um crescimento de 34
bilhões em seus patrimônios durante a pandemia, segundo a ONG Oxfam2.
André
Luiz Gonçalves Primo – Direito Matutino
REFERÊNCIAS:
1VIEIRA,
Bárbara Muniz. Entregadores se unem por melhores condições de trabalho nos
aplicativos: 'Entrego comida com fome', diz ciclista. G1 SP, São Paulo.
Disponível em:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/21/entregadores-se-unem-por-melhores-condicoes-de-trabalho-nos-aplicativos-entrego-comida-com-fome-diz-ciclista.ghtml.
Acesso em: 20 ago. 2020.
2Patrimônio
dos super-ricos brasileiros cresce US$ 34 bilhões durante a pandemia, diz Oxfam.
G1, [s/l]. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/07/27/patrimonio-dos-super-ricos-brasileiros-cresce-us-34-bilhoes-durante-a-pandemia-diz-oxfam.ghtml.
Acesso em: 20 ago. 2020.
3MARX,
Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Londres: fev. 1848.
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